O que acontece ao se juntar músicos de Minas Gerais e Bahia em uma banda? É essa a proposta do Trilho Elétrico. Com uma sonoridade que mistura uma série de elementos, que vão desde o axé, com pinceladas de reggae, influências do rock e — mais recentemente — uma passagem pelo pop, o grupo lançou seu primeiro álbum em 2023 e promete novidades.
A formação conta com quatro nomes de notoriedade. Os mineiros Lelo Zaneti, ex-baixista do Skank, e Rodrigo Borges, filho de Marilton Borges e um dos herdeiros do Clube da Esquina, uniram-se aos baianos Manno Góes, compositor e fundador do Jammil e Uma Noites, e Lutte, ex-vocalista do Mosiah.
A história começa como um projeto de Borges e Góes durante a pandemia e graças ao Carnaval. Os dois se conheceram e tocaram juntos em um evento da União Brasileira de Compositores (UBC) em 2019. O mineiro, então, convidou o baiano para conhecer seu bloquinho de bairro Divina Banda, em Santa Tereza, Belo Horizonte. À Rolling Stone Brasil, Rodrigo conta que o amigo “ficou apaixonado pelo Carnaval” da capital de Minas.
“[Manno] Falou: ‘Pô, o Carnaval daqui parece o de Salvador há 20, 30 anos’. E aí eu tive essa ideia de fazer um projeto Minas e Bahia.”
Apesar de terem feito algumas músicas só os dois, ainda sentiam que a banda estava incompleta. Foi aí que Lelo e Lutte entraram na jogada.
“De cara eu pensei no Lelo, do Skank, com as levadas de baixo que são super groovadas e criativas. Sempre admirei o trabalho do Lelo e do Skank. O Manno pensou no Lute, e falou: ‘Tem um cara aqui de Salvador que é do reggae, mas é super carismático, canta e toca bem, vai ser muito bacana ele compor’. Fizemos os convites pros dois, os dois toparam e fechamos essa formação, tradicional e original do Trilho.”
O isolamento ocasionado pelo covid-19 não impediu que os músicos trabalhassem da maneira que lhes era possível. Assim, em 2023, o trabalho que o quarteto teve ao longo de três anos viu a luz do sol por meio de seu álbum de estreia, homônimo.
Novo EP e música “Plot Twist”
Em fevereiro último, o Trilho Elétrico iniciou uma nova etapa ao lançar seu single mais recente, “Plot Twist”, com outra levada em comparação ao disco anterior. Agora, a sonoridade está mais voltada ao pop. Sobre a composição, Lutte explicou:
“Ela trata sobre um ‘plot twist’ na sua própria vida, de você assumir o protagonismo dela. Uma mensagem também de que o amor pode ser por uma pessoa ou por você mesmo.”
Esta não deve ser a única novidade para 2025. O grupo promete lançar um novo EP em breve e já tem até uma música “na agulha”: “Alguém Precisa Mudar Esse Refrão”, composição de Lelo e Márcio Borges — “o primeiro letrista e parceiro de Milton Nascimento”, afirma Rodrigo, que complementa:
“É uma canção que lembra coisas do Bob Dylan, um pouco do Renato Russo, e ele pegou bem na veia de trabalhar uma música pop.”
O álbum homônimo também trouxe uma série de participações especiais, como Daniela Mercury, Vitor Kley e Toni Garrido. O conceito das colaborações será mantido no vindouro EP e Rodrigo revelou até mesmo um dos nomes que talvez fará parte: Zé Ibarra, ex-integrante do Bala Desejo, hoje em carreira solo. Outra ideia é fazer um chamado “núcleo mineiro” com direito a Rogério Flausino (Jota Quest) e Cláudio Venturini (14 Bis).

Há, ainda, o desejo de gravar canções ao vivo em uma espécie de evento de gravação, seja em São Paulo ou Salvador. E, claro, realizar o máximo possível de shows.
Lelo Zaneti e o fim do Skank
Nome mais conhecido do Trilho Elétrico, Lelo Zaneti se juntou à banda em meio ao fim do Skank, do qual fez parte por décadas ao lado de Samuel Rosa (vocal e guitarra), Henrique Portugal (teclado) e Haroldo Ferretti (bateria). Nem mesmo o contínuo sucesso do grupo evitou o fim, anunciado em 2020, mas sacramentado três anos depois. Em entrevistas, os músicos citam a vontade de trabalhar em projetos diferentes como causa para o encerramento das atividades, mas de acordo com o baixista, essa não é a única justificativa.
A mudança no mercado consumidor da música aparenta ter sido outra razão de impacto. Com o passar dos anos, álbuns completos deixaram de ser o “comum” entre os artistas e deram lugar aos singles, disponibilizados aos poucos e que nem sempre são condensados em um disco. Isso levou os integrantes a pensarem em outros formatos e, consequentemente, parceiros, com mudanças de rumo.
Lelo aponta que “o fato de não existir mais disco” foi o primeiro sinal para “terminar o Skank com um grande show” e destaca que a conclusão das atividades era um desejo relativamente antigo. Ele explica:
“É uma opinião pessoal: achamos que depois de 2014 [ano de lançamento do álbum final Velocia], já havia um indício de um formato que talvez já não existiria mais, os CDs da forma como era. A coisa migrou para o digital de tal forma que o consumo de música voltou a se tornar o single. Ainda demos uma sequência muito bacana com ‘Algo Parecido’, uma balada bonita, e gravamos um videoclipe, mas alguns sinais vão indicando que se torna importante também as pessoas terem a liberdade de escolha, de falar, ‘eu gostaria realmente, a partir de agora, de fazer uma carreira solo’, algo assim.”
O baixista não descarta o retorno do Skank, mas isso não deve acontecer por agora. Os integrantes ainda são amigos, parecem guardar imenso carinho por tudo que viveram e até planejam o lançamento de um álbum ao vivo “póstumo”, com a gravação de seu último show, realizado no Mineirão, em Belo Horizonte, em março de 2023.
“Torcemos para todo mundo estar vivo e bem. Mas é uma coisa que eu acho que não é por agora. O tempo é incrível. A gente, vivendo a realidade e sendo motivado e cativado por situações legais que tragam de volta em uma coisa mais para frente, esse presente. Acho que seria um presente para todos, para a gente, para todo mundo.”
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Fonte: rollingstone.com.br