Em muitos aspectos, os primeiros seis meses da TV em 2025 foram marcados por séries impecavelmente produzidas que não têm vergonha de parecer… séries de TV. Os melhores títulos da primeira metade do ano incluem dramas médicos, procedurais policiais e comédias excêntricas de cidade pequena — exatamente o tipo de programa que era comum muito antes da invenção do videocassete, quem dirá do streaming.
Mas a situação é mais complexa do que parece. A maioria dessas produções soa moderna de maneiras diferentes. O drama médico, por exemplo, é parcialmente serializado, com toda a temporada se passando durante um único turno no hospital. Já a comédia de cidade pequena se desenrola em uma comunidade inuíte nas planícies congeladas do norte do Canadá.
E várias das nossas 10 melhores do ano até agora são ousadas de outras formas: há um drama moral e politicamente complexo ambientado no universo Star Wars; uma minissérie em que cada episódio foi filmado em um único plano-sequência; e uma comédia escrachada sobre a busca de uma mulher por um orgasmo — que também é uma tragédia sobre seu enfrentamento de um câncer terminal.
Este mês de junho está um pouco devagar em termos de estreias relevantes na TV, então aproveite para colocar em dia uma ou mais dessas ótimas produções — listadas abaixo em ordem alfabética — antes que queridinhas como O Urso e Round 6 voltem ao ar.
Abaixo, veja as 10 melhores séries de TV de 2025 até agora, segundo Rolling Stone.
O feito técnico desta minissérie de quatro episódios — cada capítulo foi filmado em um plano-sequência ininterrupto de uma hora — seria o aspecto mais impressionante da produção, se não fosse por todo o resto. Quando Jamie, de 13 anos (Owen Cooper, absolutamente impressionante em sua estreia nas telas), é preso pelo assassinato de um colega de classe, todos ao seu redor tentam entender o que aconteceu: seu pai (Stephen Graham, que também coescreveu a série com Jack Thorne), o detetive encarregado do caso (Ashley Walters) e a psicóloga designada pelo tribunal (Erin Doherty), entre outros. Quanto mais eles descobrem — não apenas sobre essa tragédia específica, mas sobre as forças sociológicas maiores por trás dela —, mais perturbadora essa história se torna. Um clássico instantâneo.
A segunda e última temporada da série prelúdio de Star Wars, criada por Tony Gilroy — uma das melhores coisas que a franquia produziu desde que a Disney comprou os direitos de George Lucas — talvez tenha sido ambiciosa demais ao condensar, em apenas 12 episódios, o que Gilroy originalmente planejava contar ao longo de quatro temporadas.
Em alguns momentos, a narrativa parece apressada, ou excessivamente preocupada em levar seu protagonista (Diego Luna) diretamente até os eventos de Rogue One: Uma História Star Wars. Mas nos seus melhores momentos — o Império manipulando a opinião pública para justificar a destruição de um planeta inteiro, Mon Mothma (Genevieve O’Reilly) arriscando a vida para fazer um discurso crucial, Kleya (Elizabeth Dulau) revisitando uma vida inteira com Luthen (Stellan Skarsgård) — a série é tão poderosa e inteligente que levanta a questão: por que ninguém antes tentou contar uma história tão adulta no universo Star Wars?
3) Ao Norte do Norte (Netflix)
Esta comédia produzida pela CBC, estrelada por Anna Lambe como uma mulher inuíte que deixa um casamento ruim e tenta recomeçar a vida, é modesta em muitos aspectos — assim como a pequena vila no congelado território de Nunavut, o mais ao norte do Canadá, onde a série se passa. Não acontece muita coisa, o humor é suave e a trama segue mais pelo clima do que pela ação. Mas que clima! O tom da série, o carisma e a alegria que Lambe transmite, além da especificidade da cultura inuíte e da sensação de isolamento da comunidade, fazem com que a série pareça especial, mesmo enquanto caminha com tranquilidade.
4) Dept. Q (Netflix)
Os romances de Jussi Adler-Olsen sobre uma equipe de detetives desajustados encarregada de casos arquivados já foram adaptados para vários filmes em sua terra natal, a Dinamarca. Agora, ganharam uma excelente versão em inglês, com Scott Frank (O Gambito da Rainha) e Chandni Lakhani transferindo a história para a Escócia — e criando, no processo, uma espécie de Slow Horses policial, um pouco menos sarcástico.
5) Diários de um Robô-Assassino (Apple TV+)
Stellan não é o único Skarsgård com uma série de ficção científica nesta lista. Tanto Andor quanto Diários de um Robô-Assassino — estrelada por seu filho, Alexander — abordam governos que usam a mídia estatal para pavimentar o caminho para atrocidades. Mas, enquanto Andor é sombria e cerebral, Diários de um Robô-Assassino — em que Alexander interpreta um androide de segurança que só quer ser deixado em paz para assistir às suas séries favoritas — é leve e frequentemente boba, de um jeito muito cativante.
6) Morrendo por Sexo (Hulu)
A última vez que Michelle Williams estrelou uma minissérie da FX (Fosse/Verdon), ela ganhou um Emmy. E talvez precise abrir espaço para outro troféu na estante, graças à sua atuação alternadamente hilária e comovente como uma mulher com câncer de mama em estágio 4, determinada a finalmente ter uma vida sexual satisfatória antes que seja tarde demais. Williams está brilhantemente acompanhada por Jenny Slate como sua melhor amiga, Rob Delaney como o vizinho nojento, porém irresistível, Sissy Spacek como a mãe com quem perdeu o contato, entre outros. Esta série nem sempre é fácil de assistir, mas sua capacidade de equilibrar a tristeza e os absurdos da história é impressionante.
Assim como Ruptura, esta comédia ambientada nos bastidores de Hollywood — estrelada e cocriada por Seth Rogen como o novo chefe de um estúdio de cinema totalmente despreparado para o cargo — oscilava bastante. Alguns episódios (incluindo um filmado inteiramente em um único plano-sequência, como Adolescência) eram hilários; outros (como a rivalidade entre os personagens de Ike Barinholtz e Chase Sui Wonders sobre qual ideia de filme de terror seria produzida) deixaram a desejar.
Mas os pontos altos eram altíssimos, e poucas séries recentes usaram tão bem seus convidados especiais — fossem eles interpretando a si (Martin Scorsese, Zoë Kravitz, Sarah Polley), ou personagens fictícios. No episódio final, Bryan Cranston, como o chefe alucinado de Rogen, relembrou com força que, antes de ser um ator dramático lendário em Breaking Bad, era um comediante físico incrível em Malcolm.
8) Ruptura (Apple TV+)
A tão aguardada segunda temporada da distopia corporativa Ruptura teve momentos de altos extremos e baixos frustrantes. Os problemas ficaram mais evidentes na segunda metade da temporada, quando o ritmo se desequilibrou e os personagens coadjuvantes foram deixados de lado em favor de dois episódios fora do formato (um bom, outro ruim). Mas é isso que acontece quando uma série arrisca. Às vezes, falha. Mas quando acerta, entrega episódios como a nevasca no campo ORTBO, ou o final de temporada eletrizante. Mais consistência será bem-vinda quando a terceira temporada chegar, mas os melhores momentos dessa leva foram extraordinários.
A melhor série de 2025 até agora — e algo vai ter que ser muito bom para tirar esse posto até dezembro. Mais de 30 anos após a estreia de Plantão Médico, o ator Noah Wyle se reuniu com os produtores R. Scott Gemmill e John Wells para criar um novo drama hospitalar, ao mesmo tempo nostálgico e inovador, ambientado ao longo de 15 horas consecutivas no mesmo turno frenético da emergência. Seja lidando com ferimentos leves ou vítimas de um tiroteio em massa, a equipe — incluindo o experiente e sensato Dr. Robby (Wyle), a enfermeira-chefe durona Dana (Katherine LaNasa), e novatos carismáticos como Mel (Taylor Dearden) — protagoniza um tributo à competência e compaixão diante do horror ininterrupto. The Pitt é um marco.
Assim como Poker Face (cuja divertida segunda temporada quase entrou na lista), este mistério de assassinato em “sala trancada” — sobre o assassinato do mordomo-chefe da Casa Branca durante um jantar de Estado — é uma homenagem descarada às histórias de detetive clássicas. O diferencial está no espírito de comédia anárquica: as testemunhas, suspeitos e até a detetive (Uzo Aduba como uma investigadora brilhante, mas excêntrica, que prefere pássaros a pessoas) são todos absurdos em diferentes níveis. É uma série que transforma a 1600 Pennsylvania Ave. num lugar divertido de se passar um tempo.
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Fonte: rollingstone.com.br