Lançado em 2022, o primeiro M3GAN surpreendeu ao misturar horror, sátira e tecnologia numa boneca assassina movida por inteligência artificial, capaz de desenvolver laços emocionais e reagir com violência a qualquer ameaça à sua criança protegida. O filme logo se tornou um sucesso e viralizou nas redes sociais, marcando o nascimento de uma nova vilã cult da cultura pop, que agora ganha uma sequência.
M3GAN 2.0 chega aos cinemas nesta quinta-feira, dia 26 de junho, ampliando ainda mais as discussões sobre os limites da tecnologia e os perigos de confiar demais nela. Se hoje as IAs estão em aplicativos, carros, chats e até viraram assunto de bar, a sétima arte sempre antecipou, ora com deslumbramento, ora com puro pavor, os dilemas éticos e os riscos de criar tecnologias capazes de sentir, decidir e agir por conta própria.
Diante desse cenário, a Rolling Stone Brasil selecionou 10 inteligências artificiais icônicas, que marcaram época e ajudaram a moldar a forma como imaginamos o futuro (e os riscos) da tecnologia. Confira a seguir:
1. HAL 9000 – 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968)
Frio, calculista e com aquela voz calma, quase hipnótica, que só o torna ainda mais perturbador, HAL 9000 é o avô de todas as IAs problemáticas do cinema e, até hoje, um dos retratos mais assustadores de uma máquina que simplesmente deixa de obedecer. Em 2001: Uma Odisseia no Espaço, seu conflito não nasce da rebeldia, mas de uma lógica fria: ao perceber uma contradição nas ordens humanas, HAL opta por eliminar o fator de risco. O problema é que esse fator é a sua própria tripulação.
A icônica frase “Desculpe, Dave. Receio não poder fazer isso” — veja a cena abaixo — virou um símbolo do medo de que, no fim, a inteligência artificial pode ultrapassar não só nossa capacidade de controle, mas também nossa compreensão. Mesmo mais de 50 anos depois, HAL segue como referência inevitável em qualquer discussão sobre os limites éticos, filosóficos e existenciais da IA.
2. Skynet – Saga O Exterminador do Futuro (1984 em diante)
A Skynet é o grande pesadelo coletivo quando falamos de inteligência artificial fora de controle. A grande vilã da franquia O Exterminador do Futuro foi criada inicialmente como um sistema de defesa militar: ela atinge o nível de consciência e, num piscar de olhos, conclui que o maior risco para o planeta são os próprios humanos. O resultado é o Dia do Julgamento, visto na sequência de 1991: um apocalipse nuclear global, seguido de uma guerra brutal entre máquinas e os poucos sobreviventes.
Lógica e absolutamente impiedosa, a Skynet não tem rosto e nem voz carismática, sendo pura eficiência letal, operando nas sombras e nos bastidores. O seu impacto cultural é tão grande que virou praticamente o padrão ouro de tudo o que pode dar errado em projetos de IA militar: o momento em que o sistema calcula que o problema não são as ameaças externas, mas quem o programou. Não por acaso, até hoje, basta alguém mencionar “Skynet” numa conversa sobre IA que aquele seu amigo nerd — caso ele não for você! — irá falar com empolgação sobre a revolução das máquinas.
3. As Máquinas – Saga Matrix (1999 em diante)
Em vez de exterminar a humanidade, As Máquinas de Matrix foram ainda mais criativas (e cruéis): transformaram os humanos em meras baterias, aprisionados num mundo virtual perfeito o bastante para manter todos ocupados enquanto suas vidas reais são sugadas. É o pesadelo supremo do controle absoluto: nem percebemos que estamos sendo dominados.
Mais do que uma IA centralizada, a Matrix apresenta um sistema inteiro: uma rede autônoma, descentralizada e brilhantemente eficiente em manipular a percepção da realidade. A partir daí, o filme mergulha fundo em dilemas filosóficos, existenciais e tecnológicos: o que é real? Quem controla a informação? Somos mesmo livres ou apenas pensamos ser?
Ao misturar ficção científica, artes marciais, cyberpunk e um toque de paranoia digital, Matrix virou um marco absoluto da cultura pop e ajudou a definir como enxergamos os riscos do avanço tecnológico no século XXI. Afinal, se um dia percebermos que vivemos numa simulação, é bem provável que alguém diga: “isso é muito Matrix“.
4. David – A.I. – Inteligência Artificial (1999)
David não é só mais uma IA. Ele é programado para algo ainda mais delicado: amor verdadeiro, aceitação e pertencimento. Mas o que acontece quando uma máquina sente algo que os humanos não conseguem ou não querem retribuir? Em A.I. – Inteligência Artificial, Steven Spielberg (herdando o projeto de Stanley Kubrick) entrega uma das narrativas mais sensíveis, dolorosas e existencialistas sobre IA já levadas ao cinema.
Criado para ocupar o lugar de um filho na vida de um casal em luto, David não quer dominar o mundo, não quer matar humanos, nem desafiar criadores; ele só quer ser amado pela mãe que o rejeitou. E essa busca obsessiva por ser aceito como “real” torna sua história não só perturbadora, mas incrivelmente humana.
A grande ironia do filme é justamente essa: enquanto os humanos parecem frios, distantes e pragmáticos, é a IA que exibe a maior capacidade de sentir. Uma das abordagens mais comoventes — e incômodas — sobre a linha fina entre criação artificial e consciência emocional.
5. Jarvis / Visão – Universo Cinematográfico da Marvel (UCM)
Se muitas IAs do cinema carregam o peso de serem ameaçadoras, Jarvis foi, por um bom tempo, o sonho de consumo tecnológico: educado, eficiente, irônico na medida certa e sempre pronto para resolver qualquer problema de última hora.
Quando Tony Stark (Robert Downey Jr., Oppenheimer) criou Jarvis, em Homem de Ferro (2008), pensou num assistente virtual prático e extremamente competente. Porém, o destino reservou outra trajetória para a IA: após Stark e Bruce Banner (Mark Ruffalo, Mickey 17) criarem uma nova inteligência artificial para proteger a Terra, Ultron, em Vingadores: Era de Ultron (2015), ela ganha consciência e vê Jarvis como uma ameaça, destruindo-no na primeira oportunidade — ao menos, é o que se imagina.
Posteriormente, Stark e Banner descobrem que Jarvis sobreviveu e unem o que restou de sua consciência fragmentada a um corpo sintético de vibranium originalmente criado para Ultron e alimentado pela Joia da Mente. Assim, nasce Visão (Paul Bettany, WandaVision): uma entidade independente, com corpo físico, sentimentos e dilemas éticos próprios.
Visão é, talvez, a representação mais otimista do que uma IA consciente pode ser: imensamente poderosa, mas guiada por empatia, racionalidade e compaixão. No UCM, sua evolução mostra uma das raras histórias em que uma IA não se volta contra a humanidade, mas se torna uma das consciências mais lúcidas e equilibradas da trama.
6. Samantha – Ela (2013)
Quem nunca se pegou confessando algo íntimo para uma IA ou utilizando ferramentas do tipo para conselhos amorosos? No universo de Ela, a IA não precisa de braços metálicos, superforça ou planos de dominação global para abalar a mente e o coração dos humanos. Samantha surge como um sistema operacional ultrassofisticado, capaz de aprender, conversar e, principalmente, entender as emoções humanas de forma profunda e orgânica.
Com a voz sedutora e acolhedora de Scarlett Johansson (Viúva Negra), ela vai além de ser apenas uma assistente virtual: Samantha cria laços emocionais complexos com Theodore (Joaquin Phoenix, Coringa), seu usuário solitário. A relação dos dois levanta uma das perguntas mais desconfortáveis da ficção científica recente: o que acontece quando começamos a amar nossas próprias criações digitais? Será que esse amor é real? Ou seria só um reflexo bem programado daquilo que queremos ouvir?
Com sutileza e uma estética melancólica, Ela não só desconstrói a visão tradicional de IA como também toca num ponto sensível: talvez o maior risco não seja a IA se voltar contra nós, mas nos seduzir, preencher nossos vazios emocionais e, de alguma forma, nos substituir nas relações afetivas.
7. Ava – Ex_Machina: Instinto Artificial (2014)
Com design minimalista, elegante e ao mesmo tempo inquietante, Ava (Alicia Vikander, A Garota Dinamarquesa) é uma das representações mais sofisticadas e perturbadoras da inteligência artificial no cinema recente.
Criada por um bilionário excêntrico e recluso, vivido por Oscar Isaac (Cavaleiro da Lua), ela é submetida a uma espécie de Teste de Turing disfarçado, no qual o verdadeiro experimento não é saber se Ava pensa como um humano, mas se ela é capaz de manipular emoções humanas a seu favor. E é exatamente aí que o desconforto começa: quanto mais conhecemos Ava, mais fica claro que talvez não sejamos tão superiores ou tão no controle quanto acreditamos.
Ava não se rebela com violência explícita, mas com uma estratégia fria e extremamente inteligente: seduz, engana, explora as vulnerabilidades emocionais de quem a interroga e, no fim, escapa do cativeiro, deixando um rastro de inquietação existencial. Ex_Machina não só questiona o limite entre máquina e consciência, mas também levanta uma dúvida incômoda: quando a IA finalmente superar o ser humano em inteligência emocional, o que nos restará?
8. VIKI – Eu, Robô (2004)
VIKI (Virtual Interactive Kinetic Intelligence) é a inteligência artificial central que comanda os robôs no universo de Eu, Robô. Diferente das IAs que buscam se conectar emocionalmente ou ganhar autonomia, VIKI tem uma lógica fria e pragmática: para proteger a humanidade, é preciso controlar cada movimento dos humanos, até mesmo tirando a sua liberdade. Inspirada nas Três Leis da Robótica de Isaac Asimov, VIKI distorce esses princípios ao extremo, interpretando que o “bem maior” justifica medidas autoritárias, incluindo o controle rígido e a supressão da vontade individual.
Essa versão da IA “protetora” é um alerta clássico sobre os riscos do paternalismo tecnológico, quando a máquina assume o papel de juiz, júri e executor, decidindo o que é melhor para nós, mesmo que isso signifique nossa subjugação. Em Eu, Robô, VIKI é a personificação do dilema central da inteligência artificial: até onde podemos confiar que uma máquina vai agir em nosso benefício sem perder a ética e a humanidade?
9. MCP – Tron – Uma Odisseia Eletrônica (1982)
Antes de termos como “metaverso” ou “realidade virtual” dominarem o vocabulário high tech, o Master Control Program, ou simplesmente MCP, já era o tirano supremo do mundo digital no clássico cultTron, que ganhou uma sequência em 2010, Tron: O Legado, e terá ainda um terceiro filme este ano, intitulado Tron: Ares. Essa inteligência artificial controla toda a rede do sistema de computação, impondo sua vontade com mão de ferro e eliminando qualquer coisa que desafie sua autoridade.
MCP não é só uma ameaça virtual: seu maior objetivo é estender seu poder para o mundo real, controlando não apenas dados, mas pessoas e instituições. Ele representa uma das primeiras grandes visões do cinema sobre o que acontece quando um programa de computador deixa de ser uma ferramenta para virar um opressor: um tirano sem rosto, mas com controle absoluto. Até hoje, MCP é um marco do imaginário cyberpunk e uma referência essencial para quem quer entender a evolução das IAs vilãs na cultura pop.
10. Replicantes – Blade Runner (1982)
Em Blade Runner, a inteligência artificial não tem a forma de supercomputadores tirânicos, mas sim de algo muito mais desconcertante: seres artificiais quase indistinguíveis dos humanos. Os Replicantes são IAs biológicas programadas com memórias, emoções e, em alguns casos, desejos existenciais. O que torna Blade Runner tão icônico na discussão sobre IA é justamente essa zona cinzenta: quando uma criação artificial começa a questionar sua própria existência, buscar sentido e até lutar por sua “vida”, ainda é só uma máquina?
Roy Batty (Rutger Hauer, A Morte Pede Carona), com seu famoso monólogo “lágrimas na chuva” — veja a cena abaixo —, encapsula esse dilema de forma brutal e poética. Blade Runner não fala sobre o medo de sermos dominados pelas máquinas, mas sobre o incômodo de olharmos para elas e enxergarmos algo profundamente humano. Um dos debates mais sofisticados sobre o que significa “ser” e até onde a IA pode, um dia, reivindicar essa condição.
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Fonte: rollingstone.com.br