PUBLICIDADE

‘Artista’ gerada por IA assina contrato milionário com gravadora


A inteligência artificial na música deixou de ser experimento para se tornar realidade comercial. A compositora Telisha Jones e sua criação digital, a artista Xania Monet, assinaram um contrato multimilionário no valor de US$ 3 milhões com a Hallwood Media, empresa conhecida por representar produtores de sucesso como Murda Beatz e Sounwave. O acordo marca um marco na monetização de música gerada por IA, mas também levanta questões complexas sobre autenticidade, direitos autorais e transparência na indústria.

Jones lançou o álbum Unfolded de Xania Monet em 8 de agosto, e desde então a música “How Was I Supposed to Know?” acumulou 5 milhões de reproduções no YouTube e Spotify. A voz de Xania Monet apresenta semelhanças notáveis com Beyoncé, incluindo traços de Alicia Keys e pronúncia sulista. Enquanto Jones escreve todas as letras, ela utiliza a plataforma de IA Suno para transformar suas palavras em canções completas.

O contrato representa um risco considerável para a Hallwood Media. Comentários nas redes sociais sugerem que muitos fãs não percebem que Xania Monet é uma criação artificial, o que pode gerar reações negativas quando a verdade se tornar amplamente conhecida. A falta de transparência sobre a natureza artificial do artista espelha controvérsias similares que já surgiram na indústria.

O caso do The Velvet Sundown ilustra os desafios dessa nova era musical. A “banda”, que se descreve como um “projeto musical sintético guiado por direção criativa humana, composto, vocalizado e visualizado com o apoio da inteligência artificial”, confirmou oficialmente ser uma “provocação artística”. O misterioso grupo que rapidamente ganhou mais de 500.000 ouvintes mensais no Spotify, foi oficialmente exposto como uma farsa artística gerado por IA.

“Isso não é um truque, é um espelho. Uma provocação artística contínua projetada” para desafiar percepções sobre autenticidade musical, segundo a própria descrição da banda. O projeto utilizou a mesma plataforma Suno empregada por Xania Monet, demonstrando as capacidades crescentes da tecnologia de geração musical.

O sucesso inicial e subsequente declínio do The Velvet Sundown servem como alerta para a viabilidade comercial da música artificial. Embora a banda tenha alcançado mais de 500.000 ouvintes mensais em junho, perdeu cerca de 40% de suas reproduções poucos meses depois. A dificuldade em manter e crescer uma audiência quando o “artista” não pode interagir com os fãs representa um obstáculo significativo para projetos similares.

A questão legal adiciona outra camada de complexidade ao cenário. Plataformas de IA como Suno ou até mesmo ChatGPT foram treinadas usando material protegido por direitos autorais, gerando litígios. Recentemente, gravadoras intensificaram uma ação judicial contra a Suno, alegando que a plataforma foi treinada com músicas extraídas do YouTube. A Anthropic, criadora do Claude (outra plataforma de IA), resolveu uma disputa com autores por US$ 1,5 bilhão, demonstrando os riscos financeiros envolvidos.

O Escritório de Direitos Autorais dos Estados Unidos permite que humanos usem IA como “ferramenta assistiva”, mas declara que não concederá direitos autorais onde “elementos expressivos são determinados por uma máquina”. Com Telisha Jones fornecendo apenas as letras enquanto a IA cuida da composição e performance vocal, a situação de Xania Monet permanece em área legal nebulosa.

A música artificial tem encontrado sucesso em playlists e no TikTok, mas evidências sugerem dificuldades em capitalizar momentos virais de forma sustentável. O serviço Deezer desenvolveu tecnologia para identificar música gerada por IA e rotulá-la publicamente, exibindo o aviso “algumas faixas neste álbum podem ter sido criadas usando inteligência artificial”.

The Velvet Sundown chegou ao topo das paradas antes que os ouvintes percebessem a farsa, e agora é um website dedicado à educação sobre inteligência artificial, transformando a controvérsia em ferramenta educativa.

O contrato de Xania Monet estabelece um precedente importante, mas seu sucesso a longo prazo dependerá de como a indústria e o público navegarão questões de transparência, autenticidade e sustentabilidade comercial. Enquanto a tecnologia continua avançando, artistas, gravadoras e consumidores precisam definir os limites éticos e legais dessa nova fronteira musical.

+++ LEIA MAIS: As melhores dicas e truques para identificar o uso de Inteligência Artificial
+++ LEIA MAIS: Netflix admite uso de inteligência artificial generativa em série para “reduzir custos”


Nascida na Argentina mas radicada no Brasil há mais de 15 anos, Daniela achou na música sua linguagem universal. Formada em radialismo pela UNESP, virou pesquisadora criativa e firmou seu pé no jornalismo musical no portal Popload. Gateira, durante a semana procura a sua próxima banda favorita e aos finais de semana sempre acha um bom show para assistir.





Fonte: rollingstone.com.br

Leia mais

PUBLICIDADE