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Arthur Lira mantém influência política com oposição


O ex-presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), voltou a ser protagonista nos bastidores da política ao atuar como negociador crucial na desocupação da Mesa do Plenário durante um protesto da oposição última semana. Fontes ouvidas pela Gazeta do Povo indicam que líderes do Centrão e da oposição recorreram ao gabinete de Lira para buscar mediação. O acordo permitiu que o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), finalmente reassumisse a direção do Plenário e abrisse a sessão após dois dias de obstrução física.

Paralelamente, Lira tenta articular o andamento do projeto que amplia a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais, relatado por ele. Segundo o deputado, a votação em plenário pode ficar para setembro ou até dezembro, a depender do clima político e do fechamento de um acordo sobre as compensações financeiras da proposta.

“A semana de retorno dos trabalhos da Câmara não foi uma semana qualquer. Vamos esperar como é que vai ser hoje a reunião de líderes, a discussão das pautas dessa semana para que a gente tenha um horizonte de discussão. Dependendo das variáveis sugestões de propostas, esse texto pode ficar com mais urgência ou menos urgência com o prazo de setembro ou com o prazo de dezembro”, disse.

O texto, aprovado na Comissão Especial, em julho, também cria uma faixa de transição parcial até R$ 7.350 e amplia a renúncia fiscal estimada para R$ 31,3 bilhões em 2026. A proposta altera regras de tributação de dividendos, títulos como LCA e LCI e prevê repasses para estados e municípios.

“Nós temos diferentes visões a respeito do mérito do projeto. O que a gente vai tentar buscar é que a gente possa chegar a um texto mais único e retilíneo, mais uníssono”, disse.

Projeto do IR é prioridade para Lula

Considerada prioridade econômica e social pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a proposta do novo Imposto de Renda busca corrigir a defasagem na tabela e ampliar o poder de compra da população de menor renda, mas não deixa claro de onde sairá o dinheiro para fazer isso. O texto aprovado na Comissão Especial em julho prevê:

  • Isenção total para quem recebe até R$ 5 mil mensais;
  • Faixa de transição parcial até R$ 7.350;
  • Tributação de dividendos e de rendimentos de investimentos como LCA e LCI;
  • Repasses adicionais para estados e municípios;
  • Renúncia fiscal estimada em R$ 31,3 bilhões em 2026.

Apesar da pressão do governo para votar a matéria ainda neste semestre, não há consenso entre base e oposição sobre a forma de compensação orçamentária, considerada o principal entrave para avançar no plenário. Até que haja entendimento, o projeto seguirá no compasso das negociações políticas — ritmo no qual Lira segue exercendo influência mesmo fora da presidência da Casa.

Nesta semana, no lugar de temas defendidos pela oposição, Motta decidiu priorizar a chamada “pauta da pacificação”: o debate sobre a adultização de crianças nas redes sociais, assunto que ganhou projeção nacional após a viralização de um vídeo do influenciador Felca. Ele anunciou a criação de um grupo de trabalho para tratar do tema.

Projetos de lei sobre a questão só devem ser analisados após a apresentação de um parecer do grupo de trabalho. Com isso, a pauta da semana não inclui outros projetos aguardados, como a própria isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. O acordo entre os líderes foi de “esfriar” a discussão sobre pautas da oposição, como a anistia e o foro privilegiado, em nome de uma alegada pacificação no Congresso.

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Lira ainda é “fiador de acordos”, avalia analista

Para o analista de risco político Rocio Barreto, Arthur Lira “ainda funciona como um nó de articulação” no Congresso. Segundo ele, a experiência e a rede de alianças acumuladas permitem que o deputado atue como mediador e garantidor de compromissos políticos. “Ele garante o que está sendo acordado, principalmente quando a oposição percebe nele alguém com capacidade real de entregar votos ou pressionar aliados. Sua intervenção não é apenas por prestígio pessoal, mas porque continua sendo visto como fiador, capaz de mobilizar Centrão, Agro e parte do PL para fechar ou destravar negociações.”

Barreto ressalta que, mesmo sem o “martelo” da presidência, Lira mantém forte influência sobre bancadas-chave, especialmente o PP e setores pragmáticos do PL e do Republicanos. Esse capital político, afirma o analista, vem de anos controlando pautas e verbas que geraram fidelidade de parlamentares, além de uma rede de relações externas com governadores, prefeitos e setores empresariais.

Sobre o estilo de comando, Barreto compara Lira e Motta: “Lira é centralizador, de alta intensidade nas negociações, capaz de impor ritmo e usar o regimento para acelerar ou travar matérias de forma cirúrgica. Já Motta tende a um perfil mais colegiado e previsível, ouvindo líderes antes de pautar, evitando o confronto direto. Ele ainda está na fase de consolidação, equilibrando o centro, o Planalto e as forças do Centrão.”



Fonte: Revista Oeste

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