Essa matéria é uma tradução da Rolling Stone americana, escrita por Asawin Suebsaeng e Cheyenne Roundtree, publicada em 16 de maio de 2025. Leia a versão original aqui.
No início desta semana, o site satírico The Onion publicou uma manchete: “Sean Combs pede julgamento rápido para chegar logo à parte em que Trump o perdoa.”
Talvez não esteja tão longe assim da realidade.
Combs, que foi acusado em setembro passado, está atualmente sendo julgado no Distrito Sul de Nova York por acusações de tráfico sexual e conspiração de extorsão. Mas, desde que Donald Trump venceu a eleição presidencial em novembro, pessoas próximas ao magnata começaram a agir nos bastidores, buscando aproximação com o entorno de Trump.
Durante o período de transição e nos primeiros meses do segundo mandato de Trump, diversos amigos e aliados antigos de Combs — que conhecem o rapper há muitos anos — começaram a entrar em contato com alguns membros da equipe de transição e do governo Trump, além de outras pessoas próximas ao presidente, segundo duas fontes familiarizadas com o assunto e uma terceira pessoa informada sobre as conversas.
(As fontes falaram sob condição de anonimato devido à sensibilidade do tema e pediram que a Rolling Stone não identificasse certos indivíduos envolvidos nessas tratativas secretas.)
“Ele está disposto a fazer qualquer coisa para sair da cadeia,” disse uma fonte que conhece Combs há uma década à Rolling Stone.
“Ele sempre foi assim. Sempre vai fazer o que for preciso para sair de uma situação.”
“Ele nem gosta do Donald Trump,” acrescentou.
As fontes descrevem as conversas como em andamento e ainda preliminares, com uma das pessoas envolvidas caracterizando o esforço como o universo de Diddy “fazendo conexões com a equipe de Trump”. (Um porta-voz de Combs não respondeu ao pedido de comentário da Rolling Stone, e a Casa Branca também não.)
Para quem está envolvido dos dois lados dessas conversas, o objetivo é claro: pessoas que conhecem Combs há anos estão se aproximando de figuras com influência sobre o presidente — com a esperança de que isso estabeleça os canais de comunicação necessários caso a equipe de Combs precise, futuramente, pedir perdão presidencial ou comutação de pena.
Não há indícios de que Trump tenha conhecimento pessoal dessas conversas, e o presidente não se manifestou publicamente sobre as acusações criminais contra Combs.
Mas o pequeno grupo de autoridades seniores do governo Trump que está a par da situação demonstrou fortes reservas quanto à possibilidade de conceder clemência, dada a gravidade das acusações.
Um dos associados mais próximos de Combs tem experiência com perdões e comutações presidenciais.
Corey Jacobs, conselheiro sênior de Combs e amigo de longa data desde a adolescência, foi libertado da prisão quando o então presidente Barack Obama lhe concedeu clemência em dezembro de 2016. Ele cumpria pena de prisão perpétua por acusações relacionadas a drogas.
Agora, Combs também está lutando por sua liberdade — e quer sair do notório Metropolitan Detention Center, no Brooklyn. Ele solicitou um julgamento rápido, recusou um acordo com a promotoria e se declarou inocente das cinco acusações federais. Se for condenado, ele pode pegar de 15 anos à prisão perpétua.
Durante os contatos privados com membros do governo e do círculo social de Trump, os aliados de Combs tentaram enquadrar o processo do rapper em termos tipicamente trumpistas, apelando à visão republicana do ex-presidente como mártir e vítima constante. Na narrativa deles, tanto Trump quanto Combs seriam empresários bem-sucedidos e celebridades controversas que foram perseguidos injustamente por promotores federais do Distrito Sul de Nova York — e ambos enfrentaram múltiplas acusações de abuso sexual que alegam serem falsas.
“As palavras ‘Estado profundo’ foram mencionadas uma ou duas vezes,” disse uma das fontes envolvidas na articulação.
“Este caso trata da vida sexual privada e pessoal de Sean Combs, o que não tem relação com seus negócios legítimos”, disse Teny Geragos, advogada de Combs, durante a declaração de abertura da defesa na segunda-feira.
“O governo não tem lugar aqui, nos quartos privados deste homem.”
Os apoiadores de Combs também lembraram a funcionários do governo — incluindo alguns envolvidos nas decisões de clemência na Casa Branca de Trump — e a outros contatos no universo MAGA que o presidente e o rapper, ambos magnatas, se conhecem há muitos anos, e que Trump já defendeu publicamente o caráter de Combs.
Em um agora amplamente compartilhado clipe de 2012 do programa Celebrity Apprentice, da NBC, Trump se refere ao artista e produtor como seu “amigo”.
“Eu adoro o Diddy,” diz Trump no episódio de Apprentice.
“Sabem que ele é um grande amigo meu; ele é um cara legal”, completa, antes de perguntar à concorrente — e ex-artista da gravadora de Combs — Aubrey O’Day, cantora do grupo Danity Kane:
“Ele é um cara legal?”
“Prefiro não responder a essa pergunta,” respondeu ela.
Ao que o futuro presidente retrucou que iria “defender ele de qualquer jeito.”
(Por anos, O’Day fez alusões à má conduta de Combs. “Quer saber o que acontece quando você não faz o que os executivos querem? Eu sou a história completa disso,” escreveu ela. No Instagram, O’Day sugeriu que vai testemunhar no julgamento de Combs nas próximas semanas.)
Combs também demonstrou admiração por Trump em diversas ocasiões.
Ao longo dos anos, o magnata do setor imobiliário foi visto em várias festas e eventos VIP de Combs em Nova York, incluindo as extravagantes festas de aniversário do fundador da Bad Boy.
Na faixa “We Gon’ Make It”, lançada em 2006, Combs menciona Trump:
“Gasto dinheiro absurdo, dinheiro de jato particular /
Aquele dinheiro de Bill Gates, Donald Trump, Bloomberg.”
Em 2015, meses após o início da campanha presidencial de Trump, Combs disse ao The Washington Post:“Donald Trump é meu amigo, e ele trabalha muito.”
Dois meses antes da vitória de Trump em 2016, o rapper declarou à MSNBC:
“Acho que [as comunidades negras] foram um pouco deixadas de lado” durante o governo Obama — embora tenha acrescentado que Obama fez “um excelente trabalho.”
Alguns membros da administração Trump que estão cientes das articulações dizem não estar levando isso a sério. Eles afirmam que, mesmo com o relacionamento prévio entre Trump e Combs, conseguir clemência seria uma batalha difícil — e um pesadelo de relações públicas para a Casa Branca — dada a natureza dos crimes alegados, incluindo o suposto tráfico sexual de duas ex-namoradas, ocorrido tão recentemente quanto 2024, segundo duas fontes com conhecimento da situação.
No entanto, Trump já demonstrou várias vezes ser altamente transacional no uso da presidência para favorecer amigos ricos e celebridades influentes.
Às vezes, um perdão ou comutação de pena concedido por Trump pode ser decidido — ou desfeito — pelos motivos mais fúteis.
Nos momentos finais de seu primeiro mandato, Trump concedeu clemência a Michael “Harry-O” Harris, figura da Death Row Records e amigo próximo do rapper Snoop Dogg.
Como a Rolling Stone revelou no ano passado, os esforços para garantir esse perdão quase foram por água abaixo quando o então presidente, furioso, foi levado a acreditar que Snoop ainda o odiava.
(Trump recuou após os aliados de Harris correrem para mostrar ao presidente trechos de documentários provando que Snoop já não nutria mais esse ressentimento.)
No fim de seu primeiro mandato, em meio ao caos da pandemia de coronavírus e às consequências do ataque mortal ao Capitólio em 6 de janeiro, Trump também concedeu clemência ao rapper Lil Wayne — em parte, porque achava que o artista havia sido simpático com ele e, na visão de Trump, era um apoiador político.
Após a Rolling Stone publicar uma reportagem de capa recente com Lil Wayne— na qual o artista faz vários comentários francos sobre sua relação com Trump —, diversos ex-integrantes do governo anterior se queixaram à revista de que Lil Wayne foi ingrato, e que ele teria enganado Trump e seus conselheiros (como o genro Jared Kushner) para garantir sua libertação.
Fonte: rollingstone.com.br