Uma música é utilizada em campanha e comícios por um presidente dos Estados Unidos. Todavia, a letra critica frontalmente tudo que ele representa: a política do partido Republicano, as guerras perpetradas pelo país e as injustiças sociais e militares vividas pela população americana. É a grande contradição que deixa John Fogerty abismado ao ver Donald Trump fazendo uso de “Fortunate Son”, um dos maiores hits do Creedence Clearwater Revival.
Autor da canção, Fogerty diz que Trump simplesmente entendeu tudo errado sobre a mensagem contida em “Fortunate Son”. Em entrevista à Vulture (via Classic Rock), o líder do CCR comenta em tom debochado:
“Não consigo imaginar usar essa música como tema de campanha política, principalmente quando você parece ser a pessoa sobre quem estou gritando na música em todos os aspectos. É hilário para mim. Será que eu que entendi errado, quem sabe?”
Lançada em 1969, no álbum Willy and the Poor Boys, “Fortunate Son” se tornou um hino de protesto contra a Guerra do Vietnã e um símbolo músical da contracultura no fim dos anos 1960. Na época, ela foi absorvida por movimentos de oposição ao presidente Richard Nixon e embalou a luta por direitos civis nos EUA.
Fogerty critica Trump e contextualiza a composição:
“Ele está usando minhas palavras e minha voz para transmitir uma mensagem que eu não apoio. Escrevi essa música porque, como veterano, fiquei indignado que algumas pessoas pudessem ser excluídas do serviço ao nosso país por terem acesso a privilégios políticos e financeiros. Também escrevi sobre pessoas ricas que não pagam sua parte justa de impostos. O Sr. Trump é um excelente exemplo de ambas as questões.”
John Fogerty diz que confusão “já aconteceu antes”
Em vez que exaltar o espírito bélico, armamentista e patriótico do Exército dos Estados Unidos, Fogerty explica que a letra é justamente uma crítica ácida ao fato de apenas jovens de classes mais baixas serem enviados para o Vietnã.
“Já aconteceu antes, quando as pessoas achavam que era uma cantiga patriótica agitar a bandeira e tudo mais, sem realmente entender o cinismo e a rebeldia absoluta que eu tinha na música. Quer dizer, mesmo que você não ouça o resto, você deveria pelo menos ouvir: ‘Não sou eu, não sou um filho afortunado’. Mas se não ouvir, acho que você consegue ver a música de uma maneira diferente.”
Ele acrescenta:
“Isso é mal compreendido por uma pequena porcentagem de pessoas — pessoas que parecem ser conservadoras, de direita e provavelmente republicanas ou algum outro ‘ismo’ nessa categoria. E principalmente pelo Sr. Trump.”
Uma das melhores canções de protesto
Recentemente, a Rolling Stone EUA colocou “Fortunate Son” na 13ª posição em sua lista que elegeu as 100 Melhores Canções de Protesto de Todos os Tempos. O texto afirma:
“A Guerra do Vietnã estava em pleno andamento quando o vocalista do Creedence Clearwater Revival, John Fogerty, sentou-se à beira da cama e escreveu este hino furioso sobre como as elites estavam perpetuando a guerra enquanto garantiam que suas próprias famílias não tivessem que compartilhar o sacrifício. No topo de sua mente estava David Eisenhower — neto do ex-presidente Dwight D. Eisenhower e marido da filha do presidente Richard Nixon, Julie — que nunca chegou perto do campo de batalha, mesmo estando na melhor idade para o recrutamento. A música ganhou um significado renovado em 2003, quando o presidente George W. Bush, o ‘Filho Afortunado’ por excelência, levou o país a uma guerra inútil no Iraque. Fogerty fez campanha ativamente por John Kerry na turnê Vote for Change de 2004, apresentando uma versão inflamada da música com Bruce Springsteen e a E Street Band.”
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Fonte: rollingstone.com.br