Arlindo Cruz, um dos maiores nomes do samba brasileiro, era amplamente reconhecido por sua genialidade musical, mas também por sua generosidade. Segundo o jornalista Marcos Salles, autor da biografia O Sambista Perfeito, Arlindo impressionava os amigos não apenas pelo talento, mas pela disposição em sempre compartilhar suas criações e conhecimentos com seus parceiros de música e amigos.
“Muitas vezes ele nem precisava da parceria, podia resolver tudo sozinho, mas fazia questão do parceiro. Ele era fiel à sua religião [o candomblé], mas abraçando a todas, sem dar espaço para a intolerância. Assim é Arlindo Cruz, um verdadeiro mestre da música e que tem feito muita falta. Das suas músicas, das suas gargalhadas, das suas pilhas sempre zoando alguém, da sua liderança serena,” contou Marcos Salles.
A generosidade de Arlindo se refletia também em sua atitude de abraçar a todos sem preconceitos, mostrando um respeito profundo por diferentes crenças e religiões. Embora fosse devoto do candomblé, Arlindo Cruz era conhecido por sua postura de inclusão e respeito à diversidade religiosa. Sua liderança e sua capacidade de acolher com humildade marcaram a vida de todos que passaram por sua trajetória.
A biografia escrita por Marcos Salles, lançada em 2023, não apenas destaca a carreira brilhante do cantor, mas também revela aspectos de sua vida pessoal e sua luta contra desafios pessoais, incluindo o vício em drogas, que marcou sua vida nos anos 90.
O sambista sofreu um acidente vascular cerebral hemorrágico em março de 2017, após passar mal em casa. Ele ficou quase um ano e meio internado e desde então lida com as sequelas. Afastado dos palcos, Arlindo Cruz também foi hospitalizado recentemente para tratar um quadro de pneumonia.
Trajetória de um dos maiores nomes do samba
Arlindo Domingos da Cruz Filho nasceu em 14 de setembro de 1958, no subúrbio do Rio de Janeiro. Criado em uma família com aspiração musical, ele ganhou seu primeiro cavaquinho no início da infância e já na juventude começou a participar das rodas de samba. Foi nessa época que ele passou a atuar com Candeia, com quem fez as primeiras gravações em estúdio.
Aos 15 anos, o artista foi para Barbacena (MG) para um período de estudos na Aeronáutica. Ao voltar para o Rio de Janeiro, Arlindo Cruz passou a frequentar o Cacique de Ramos, uma das principais rodas de samba do país, onde conheceu nomes comoJorge Aragão, Almir Guineto e Zeca Pagodinho.
Em 1981, iniciou sua carreira profissional e logo se destacou como compositor: suas músicas foram gravadas por grandes nomes como Beth Carvalho, Alcione eMaria Rita. Com a saída de Jorge Aragão do Fundo de Quintal, Arlindo Cruz foi convidado a participar do grupo, onde ele permaneceu até 1993. Ao longo desses 12 anos, o músico participou de nove álbuns e produziu sucessos como “Seja sambista também” e “Só Pra Contrariar”.
Em 1993, Arlindo saiu do Fundo de Quintal para seguir carreira solo e lançou seu primeiro álbum, Arlindinho. O sucesso continuou nos anos seguintes. Em parceria com Sombrinha, ele lançou Da Música (1996), que vendeu cerca de 60 mil cópias. O DVD MTV Ao Vivo: Arlindo Cruz é outro destaque.
Arlindo compôs mais de 500 canções, gravadas por diversos artistas, e é reconhecido como um dos instrumentistas mais influentes do samba. Sua obra ainda inclui dezenas de composições para escolas de samba, duas indicações no Prêmio da Música Brasileira (o qual venceu em 2015) e cinco indicações ao Grammy Latino.
O último projeto artístico de Arlindo Cruz foi 2 Arlindos, lançado com o filho Arlindinho em 2017, pouco antes do AVC que interrompeu sua carreira.
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Fonte: rollingstone.com.br