Ao escalar atrações nacionais para as edições recentes do Best of Blues and Rock, a organização tem seguido por um caminho mais eclético. A presença de nomes como Dead Fish, CPM 22, Di Ferrero, Day Limns e Ira! em realizações nos últimos anos gerou até mesmo questionamentos de fãs mais ávidos de blues e seus subgêneros, ainda que, em 2023, Nanda Moura tenha realizado ótima apresentação indo direto na raiz do estilo citado.
Em 2025, todavia, a curadoria acertou em cheio ao convidar para o último domingo, 15, Hurricanes, banda que funde os dois gêneros presentes no próprio nome do festival paulistano: blues e rock. Composto por Rodrigo Cezimbra (voz), Leo Mayer (guitarra), Henrique Cezarino (baixo) e Guilherme Moraes (bateria), o grupo — que se apresentou com os convidados Jimmy Pappon (teclados), Julia Benford e Lucille Berce (ambas backing vocals) — encontrou um público diminuto e ainda bem contido quando subiu ao palco da área externa do Auditório Ibirapuera, onde mais tarde tocariam Judith Hill e Deep Purple. Bastou executar “Penny in My Pocket”, faixa de abertura, para atrair atenções e até celulares em modo de gravação de vídeo para o alto.
O som e até mesmo o visual são pouco originais, deve-se reconhecer, mas poucos grupos no Brasil se propuseram a fazer bem um trabalho revivalista do blues/classic rock das décadas de 1960 e 1970. O Hurricanes, fundado no Rio Grande do Sul e agora radicado em São Paulo, preenche tal lacuna com qualidade o suficiente para não apenas convencer um público ainda esperando por Deep Purple, como, também, atrair reações mais entusiasmadas conforme o desenrolar de sua performance.
Chamou atenção, inclusive, que em pelo menos duas canções do set, o septeto foi aplaudido duas vezes: ainda no meio da música e, como convencionalmente se faz, ao fim. Aconteceu em “Come to the River”, de groove mais acentuado, com aclamação após o instrumental estendido; e “Flowers”, balada de forte apreço melódico, com palmas justas — já que foi a melhor do set — logo depois do primeiro refrão.
“Waiting”, de clara influência Zeppeliana; “Weary Hearted Blues”, com guitarra no primeiro plano; e “Devil’s Deal”, blues rock ardido reiniciado após uma das cordas do instrumento de Mayer estourar nos segundos iniciais, também se destacaram. Nitidamente ainda falta traquejo de palco — o competente Rodrigo Cezimbra muitas vezes não se fazia ouvir cantando e mal se comunicou entre as canções —, mas já se percebe evolução em comparação ao show abrindo para o Black Crowes, em março de 2023; tal qual se nota progresso entre os dois únicos álbuns lançados, o homônimo de 2023 e Back to the Basement (2024).

Em entrevista a Bia Cardoso para a Rolling Stone Brasil, dias antes do show no Best of Blues and Rock, Leo Mayer reconheceu que o Hurricanes lida com um nicho bem restrito de público. Será? A boa recepção no festival paulistano e a já mencionada falta de mais atrações brasileiras com esse tipo de sonoridade podem ser indicativos de que há mais público em potencial para essa banda do que se pensa. Basta seguir em frente. E se achar um diferencial sonoro — ainda não encontrado —, melhor ainda.
Repertório:
- Penny in My Pocket
- Over the Moon
- Waiting
- Come to the River
- Weary Hearted Blues
- The Bird’s Gone
- Flowers
- Devil’s Deal
- Thunder in the Storm
- Through the Lights
- With a Little Help from My Friends (Beatles, na versão de Joe Cocker)
+++ LEIA MAIS: Alice Cooper oferece muito mais do que “rock teatral” no Best of Blues and Rock
+++ LEIA MAIS: Deep Purple ‘surpreende sem surpreender’ ao fechar o 12º Best of Blues and Rock
+++ LEIA MAIS: A cantora ‘desconhecida’ que roubou a cena no Best of Blues and Rock
+++ LEIA MAIS: Dilemas à parte, Charlie Brown Jr de Marcão e Thiago agrada no Best of Blues and Rock
+++ LEIA MAIS: Som pesado do Black Pantera quebra barreiras no Best of Blues and Rock
+++ Siga a Rolling Stone Brasil @rollingstonebrasil no Instagram
+++ Siga o jornalista Igor Miranda @igormirandasite no Instagram
Fonte: rollingstone.com.br