Esta reportagem foi publicada em parceria com o The Trace, uma redação sem fins lucrativos dedicada à cobertura da violência armada. Assine suas newsletters.
Em agosto de 2016, uma notícia empolgante sobre uma parceria inédita entre o grupo comercial da indústria de armas e a principal organização de prevenção ao suicídio dos Estados Unidos começou a circular nas redes sociais. As publicações afirmavam que a colaboração tinha como meta “reduzir a taxa anual de suicídios em 20% até 2025”.
O “objetivo ousado”, como foi chamado pela American Foundation for Suicide Prevention (AFSP), era o ponto central da iniciativa da organização intitulada Project 2025, lançada menos de um ano antes — bem antes de um programa com o mesmo nome se tornar associado a Donald Trump.
Como armas de fogo estão envolvidas em mais da metade das mortes por suicídio que ocorrem todos os anos nos Estados Unidos, a AFSP, uma organização sem fins lucrativos, buscou a ajuda de outra entidade do mesmo tipo: a National Shooting Sports Foundation (NSSF), que representa fabricantes, clubes de tiro e comerciantes de armas.
A nova parceria sugeria que tanto a NSSF quanto a AFSP estavam colocando a saúde pública acima das disputas partidárias. As duas colaboraram na produção de folhetos e outros materiais com informações valiosas sobre sinais de alerta e estratégias de prevenção do suicídio — incluindo a importância de perguntar diretamente a alguém se essa pessoa está pensando em tirar a própria vida. A NSSF disponibilizou o material a milhares de seus associados — lojas e clubes de tiro —, que podiam oferecê-los aos clientes. A organização também criou uma seção em seu site dedicada à conscientização sobre suicídio.
O Project 2025 tinha enorme valor em termos de relações públicas. Para a AFSP, servia como um poderoso chamado para atrair doadores e voluntários — uma missão clara e mobilizadora, que poderia ser alcançada com apoio suficiente. Para a NSSF, a parceria apresentava o grupo e a indústria que ele representa como proativos, até mesmo dispostos a abrir mão de lucros, e dignos de boa vontade de legisladores, reguladores e críticos. Desde 1995, os suicídios com armas de fogo já representavam a maioria das mortes por arma nos Estados Unidos, segundo um relatório da Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg. Em 2010, o número já ultrapassava consistentemente os 60%, e as vítimas eram em sua maioria homens brancos — o principal público consumidor da indústria de armas.
Mas, desde o início, a iniciativa conjunta seguiu um caminho problemático, segundo uma investigação do The Trace e da Rolling Stone — a quarta parte de uma série contínua sobre a indústria de armas. E-mails internos, documentos e a gravação de uma reunião no Zoom revelam que a parceria, em aspectos cruciais, priorizou a imagem pública e os interesses do setor armamentista.
De fato, os registros mostram que a AFSP evitou tomar atitudes que pudessem colocar em risco sua relação com a NSSF. Em um dos casos, o diretor de redação e de relações com o setor de entretenimento retirou de um documento trechos que, segundo ele, poderiam ofender a NSSF — conforme indicam as revisões e comentários no arquivo do Word. A organização chegou a proibir explicitamente que um grupo de prevenção à violência armada distribuísse materiais em eventos da AFSP. Pouco depois do anúncio da colaboração, um memorando interno da AFSP, datado de setembro de 2016, orientava os capítulos regionais a “ter cautela quando parcerias, conferências e eventos incluírem expressões como ‘segurança com armas’ e/ou ‘violência armada’ — já que esses termos também estão sendo usados por organizações de controle de armas”. A diretriz acrescentava: “Se a AFSP for convidada a falar em uma conferência ou evento cuja pauta não esteja clara e que não envolva a comunidade de armas de fogo, por favor, recuse a participação.”
Então, muito antes da data prevista para o término do programa, a AFSP encerrou discretamente o Project 2025 — uma decisão que até agora não havia sido tornada pública.
A diretora médica e principal porta-voz da AFSP, Christine Moutier, enviou um e-mail interno em 11 de maio de 2023 anunciando que o vice-presidente do Project 2025, o diretor de iniciativas estratégicas em saúde e a gerente sênior do projeto haviam sido demitidos. “A partir de hoje”, dizia o e-mail, “o departamento do Project 2025 está sendo eliminado.”
Moutier apresentou a mudança como uma evolução natural. “Este é o momento certo para repensar o Project 2025 e incorporar as áreas mais impactantes deste projeto ao trabalho da organização.” Ela não mencionou o “objetivo ousado”.
Mas desde a criação do Project 2025, as taxas de suicídio — especialmente as que envolvem armas de fogo — permaneceram teimosamente altas e seguiam uma tendência negativa. Em 2016, quando a NSSF e a AFSP anunciaram sua parceria, houve 22.938 mortes por suicídio com arma de fogo nos Estados Unidos, segundo dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) analisados por Cassandra Crifasi, professora de saúde pública da Universidade Johns Hopkins. Isso representava 51% de todos os suicídios naquele ano. Já em 2023, o ano mais recente com dados consolidados, houve 27.300 suicídios com arma de fogo, correspondendo a 55% de todos os suicídios registrados.
A NSSF se recusou a comentar após receber um e-mail com detalhes da apuração para esta reportagem.
María de los Ángeles Corral, vice-presidente de relações públicas da AFSP, respondeu ao mesmo e-mail. “Nós estabelecemos a meta de reduzir a taxa anual de suicídios em 20% até 2025 para gerar urgência e ação que salvam vidas”, escreveu ela. “Assim como organizações que combatem o câncer e as doenças cardíacas definem metas ousadas, estabelecer esse objetivo nos ajudou a catalisar ações em comunidades e ambientes com alto potencial de impacto, implementando medidas baseadas em evidências na luta contra o suicídio.” Ela acrescentou que as duas organizações “nunca trocaram dinheiro” e que “todas as estratégias desenvolvidas como parte do Project 2025 foram incorporadas ao trabalho contínuo da AFSP em prevenção ao suicídio.”
Após o fechamento do departamento do Project 2025, registros mostram que a AFSP orientou a equipe a ser discreta ao compartilhar informações e tomou medidas para encobrir rastros. A disposição de abraçar uma meta ousada havia melhorado a reputação tanto da NSSF quanto da AFSP, o que trouxe recompensas financeiras para esta última. Agora, a meta desapareceu — mas a parceria continua, sem qualquer prazo que possa ser usado para medir o progresso.
O comunicado de imprensa de agosto de 2016 que anunciou a colaboração entre a AFSP e a NSSF trazia declarações de Robert Gebbia, CEO da AFSP, e Stephen Sanetti, então presidente da NSSF. “Por meio da análise do Project 2025 e do trabalho desta parceria, sabemos que essa campanha de educação pública tem o potencial de salvar milhares de vidas”, disse Gebbia. Sanetti acrescentou: “Como dois terços de todas as mortes envolvendo armas de fogo são suicídios, estamos agora na linha de frente da prevenção dessas mortes por meio de nossa nova relação com a American Foundation for Suicide Prevention.”
Naquele mês, entrou em vigor um memorando de entendimento (MOU) entre a AFSP e a NSSF. “As partes deverão agir no melhor interesse uma da outra durante todo o período deste MOU”, dizia o texto, “e deverão revelar quaisquer conflitos reais ou potenciais que sejam contrários aos interesses da outra parte assim que surgirem.” O documento especificava ainda: “Tais conflitos de interesse incluem, mas não se limitam a, posições defendidas por uma das partes que não estejam alinhadas com as da outra, e a emissão de qualquer declaração pública que prejudique ou possa prejudicar a outra parte.”
Por volta da mesma época, em um documento marcado como “apenas para uso interno”, a AFSP estabeleceu novas diretrizes sobre como seus capítulos regionais poderiam se envolver com outros grupos interessados em prevenção ao suicídio. Isso significava impor restrições à colaboração com organizações de prevenção à violência armada.
O documento começava afirmando que a parceria da AFSP com a NSSF era uma “decisão estratégica” e parte da “meta ousada de reduzir a taxa anual de suicídios em 20% até 2025.”
“Não chegamos a essa decisão levianamente”, dizia o texto. “Deixamos de lado a política contenciosa em torno do tema das armas de fogo para concentrar nossa atenção na educação pública sobre prevenção ao suicídio.”
O documento orientava os capítulos a “participar de parcerias, conferências e eventos que incluam pelo menos um dos seguintes: comerciantes de armas, donos de clubes de tiro, instrutores de segurança com armas e/ou membros da comunidade proprietária de armas.” Em seguida, havia uma lista de “faça” e “não faça”, incluindo alertas sobre cúpulas que usassem os termos “segurança com armas” e “violência armada”, e sobre participar de qualquer evento cuja pauta fosse ambígua e não envolvesse a “comunidade armamentista”.
O primeiro item da lista de “faça” dizia: “Se a AFSP for convidada a patrocinar ou falar em uma conferência ou evento, o programa e os palestrantes devem incluir alguma representação da comunidade de armas de fogo.”
O segundo item da lista de “não faça” instruía: “Se a AFSP for convidada a participar ou falar em qualquer parceria, conferência ou evento com um grupo de controle de armas ou de combate à violência armada, por favor, recuse a participação, a menos que a comunidade armamentista também esteja envolvida no programa.”
Nos casos em que fosse necessário recusar, o documento sugeria um modelo de resposta:
“Obrigado por pensar na American Foundation for Suicide Prevention. Aplaudimos sua dedicação à saúde mental e à prevenção do suicídio. No momento, a AFSP está em uma fase piloto de sua iniciativa de prevenção ao suicídio e armas de fogo e está limitando participações públicas. Manteremos futuras oportunidades em mente para apoiar seus esforços.”
Um ano depois, capítulos do grupo Moms Demand Action, voltado à prevenção da violência armada, quiseram montar mesas informativas nas caminhadas Out of the Darkness, o principal evento da AFSP. Esses eventos dependem da participação de voluntários de todo o país que perderam alguém para o suicídio e desejam contribuir para aumentar a conscientização e arrecadar fundos para a organização. Uma vice-presidente da AFSP enviou um e-mail à equipe regional sobre os pedidos. “Uma das questões tem a ver com a posição legislativa desse grupo em relação às armas, que é inconsistente com a política da AFSP de que nossos esforços na área de armas de fogo devem ser educacionais, com o objetivo de prevenir o suicídio — não legislativos ou de defesa política”, escreveu ela. “Por esse motivo, estamos desaconselhando a presença do Moms Demand Action nas caminhadas da AFSP.”
No mês seguinte, uma diretora sênior da AFSP respondeu a uma organizadora de uma caminhada Out of the Darkness que estava preocupada com a participação de um grupo do Moms Demand Action que queria caminhar em equipe. A diretora afirmou que eles poderiam participar da caminhada, mas “não podem abordar nossos participantes nem distribuir panfletos para divulgar a mensagem ou missão de sua organização.”
Todas essas ações pareciam estar em conformidade com o MOU, levantando dúvidas sobre se obstáculos autodestrutivos estavam embutidos na própria parceria. Uma análise dos materiais de prevenção ao suicídio coproduzidos mostra que os dois grupos nunca incluíram informações potencialmente vitais sobre as Ordens de Proteção de Risco Extremo (ERPOs) — mecanismos legais que permitem restringir temporariamente o acesso a armas de fogo de um membro da família em sofrimento mental. O suicídio é geralmente um ato impulsivo, mas as ERPOs são frequentemente alvo de desinformação entre proprietários de armas, que são levados a acreditar, incorretamente, que o instrumento fere direitos constitucionais ao devido processo. Não usar a parceria para divulgar informações precisas sobre as ERPOs foi como tentar apagar um incêndio florestal com baldes de água em vez de uma mangueira. Isso aconteceu mesmo depois de um documento interno da AFSP, de 2017, afirmar que o grupo era um “defensor” da “remoção temporária de armas de fogo durante períodos de risco aumentado de suicídio”, acrescentando: “Pesquisas mostram que separar indivíduos suicidas de meios letais ajuda a prevenir o suicídio.”
A porta-voz da AFSP afirma que o grupo, em alguns momentos, “trabalhou com” o Moms Demand Action e sua organização-mãe, Everytown for Gun Safety (que concede subsídios anuais ao The Trace), para “educar as pessoas sobre armazenamento seguro e ordens de proteção de risco extremo.” Ela também diz que a AFSP ofereceu “apoio às ordens de proteção de risco extremo em 14 estados”, acrescentando que essa é “uma posição na qual estamos em desacordo com a NSSF.”
Quando questionado para esclarecer e descrever esses esforços, o responsável pelas relações públicas não respondeu. Além disso, qualquer apoio da AFSP aos ERPOs ocorreu fora dos parâmetros de sua parceria com a NSSF, que foi criada para alcançar proprietários de armas.
Os registros mostram que a sensibilidade da AFSP às preocupações da NSSF persistiu por anos na colaboração. Em 2022, quando a organização estava editando um documento chamado “Projeto 2025: Roteiro de Armas de Fogo para os Capítulos”, a então diretora de redação e alcance de entretenimento da AFSP cortou a frase: “A AFSP não apoia a missão da NSSF.” Como explicação, a funcionária escreveu nas margens: “Quero ter cuidado para continuar nosso bom relacionamento com a NSSF.”
COM O TEMPO, A META AMBICIOSA DO PROJETO 2025 foi incorporada à estrutura de captação de recursos da AFSP. Ela aparecia em destaque nos relatórios anuais públicos da organização. “Podemos fazer isso juntos: reduzir a taxa anual de suicídios em 20% até 2025”, dizia um trecho típico, acrescentando que a AFSP havia “reunido as maiores mentes do campo e usado modelagem dinâmica de dados para determinar quais métodos de prevenção poderiam ter maior impacto.”
A meta era usada para recrutar doadores nas caminhadas “Out of the Darkness”, que, em destaque, são semelhantes a eventos de arrecadação de fundos de conscientização sobre o câncer, como o “Race for the Cure.” “Estou caminhando… para combater o suicídio e apoiar a meta ambiciosa da AFSP de reduzir a taxa de suicídios em 20% até 2025”, dizia um texto padrão de voluntário. “Por favor, me ajude a alcançar minha meta clicando no botão ‘Doar’ nesta página.”
Os e-mails de arrecadação de fundos da AFSP também apresentavam o objetivo: “Essa meta ousada não apenas salvará vidas, mas também nos ajudará a alcançar novos marcos em conscientização sobre saúde mental e prevenção do suicídio”, dizia um e-mail de 2020. “Ajude-nos a causar um grande impacto na prevenção do suicídio e doe hoje!”
Havia até uma página da web dedicada à “meta ambiciosa”, ainda ativa hoje. O botão “doar agora” aparece no topo.
Por sua vez, a NSSF e seus membros destacavam sua participação no Project 2025 em depoimentos ao Congresso, documentos empresariais e materiais de lobby enviados a legisladores. Em 2018, quando um dos lobistas estaduais do grupo escreveu à presidente do Comitê Judiciário da Câmara de Vermont se opondo a um projeto de lei que proibiria carregadores de alta capacidade no estado, ele incluiu informações complementares sobre a parceria da organização com a AFSP — mesmo o projeto não tendo nenhuma relação com suicídio. Em uma carta de 2024 a parlamentares de Maine sobre outro projeto de lei relacionado a armas, ele escreveu: “Nossos membros varejistas estão conectados a um esforço nacional desenvolvido pela AFSP chamado Projeto 2025, que busca reduzir a taxa anual de suicídios nos EUA em 20% até o ano de 2025.”
Após o massacre de 2018 na escola Marjory Stoneman Douglas, em Parkland, Flórida, uma empresa de armas — então chamada American Outdoor Brands Corporation — apontou sua filiação à NSSF e ao Project 2025 como exemplo de sua preocupação com a segurança de armas de fogo. E dois meses após o massacre de 2022 na escola primária Robb, em Uvalde, Texas, quando o Congresso realizou uma audiência para investigar fabricantes de armas, o depoimento escrito de Christopher Killoy — membro do conselho da NSSF e então presidente e CEO da fabricante de armas Sturm, Ruger & Company, Inc. — descreveu de forma semelhante o trabalho da NSSF para ajudar a AFSP a atingir a meta ambiciosa.
A iniciativa foi uma fonte de esperança para pessoas como Alex Smith, uma texana de 30 anos cujo namorado morreu por suicídio em 2016. Quando ela procurou se envolver com a AFSP e soube da meta, isso lhe deu uma “sensação de confiança e alívio” durante um período de profunda escuridão. “O suicídio me destruiu”, lembra. “Tive a impressão de que eles tinham uma fórmula secreta, porque, do contrário, estariam explorando nossa dor — e isso não podia ser verdade, então tinha que ser real.”
EM NENHUM MOMENTO A NSSF OU A AFSP reduziram as expectativas do público sobre a viabilidade de diminuir o suicídio em 20% até 2025. Quatro dias depois de a diretora médica da AFSP, Christine Moutier, enviar um e-mail à equipe sobre o encerramento do departamento do Project 2025— cerca de 18 meses antes de 2025 — o CEO de longa data da AFSP, Robert Gebbia, disse aos funcionários e voluntários que se reuniram para discutir as mudanças inesperadas em um Zoom em 15 de maio de 2023: “Quero deixar claro: a meta ambiciosa não está mudando.”
Mas então Gebbia revelou “um pouco da história.”
“Nós criamos a meta ambiciosa em 2015, e ela era aspiracional”, disse. “Ela surgiu de um trabalho com um consultor que nos guiava em um plano estratégico na época e disse: ‘Vocês já pensaram em estabelecer uma meta ousada? Sejam audaciosos, sejam ambiciosos.’ E era para ser mais do que uma meta — era para nos motivar, motivar o campo e tudo isso. Não era uma meta rígida e imutável. Mas, uma vez que a definimos, pensamos: ‘O que podemos fazer de diferente para tentar alcançá-la?’”
Gebbia explicou que levaram os próximos “dois anos” para “descobrir” o que poderia ser feito para “atingir essa meta audaciosa”, um curso de ação que incluiu trazer a NSSF em 2016.
Desde o lançamento do Project 2025, enfatizou Gebbia na reunião, o departamento do programa sempre foi um apêndice da AFSP. Agora, disse ele, é hora de “integrá-lo e levá-lo à escala.”
Moutier, colega mais jovem e telegênica de Gebbia, reconheceu brevemente que a organização estava embarcando em um novo caminho, mesmo sem ter alcançado os resultados do Project 2025. “Quando me perguntam repetidamente, lá fora, no mundo mais amplo: ‘Bem, com toda essa ciência e essas novas estratégias eficazes, por que a taxa está aumentando, afinal?’”, ela disse, antes de responder: “Ainda estamos apenas arranhando a superfície na implementação em larga escala.”
Moutier então abordou o problema de comunicação criado pelo encerramento do Project 2025. “Eu sei que, para o seu trabalho e o seu papel, a marca do Project 2025 tem sido uma espécie de estrutura, e vocês têm falado sobre o Projeto 2025 e usado essa estrutura como ferramenta”, disse. “E, portanto, estamos muito atentos ao fato de que precisaremos ser muito claros, mudar e ajudá-los — e a nós mesmos também — a falar sobre o trabalho de uma forma que ainda tenha uma mensagem muito clara. Sabemos que precisaremos trabalhar nisso.”
Uma pessoa perguntou diretamente: “Estamos eliminando o Project 2025 do nosso vocabulário?”
“A resposta é sim”, respondeu Gebbia. “Mas isso não vai acontecer instantaneamente. Está em nosso site. Temos materiais. É uma transição gradual.”
Outra pessoa perguntou sobre as apresentações da meta ambiciosa usadas para promover o trabalho da AFSP e se seria necessário cancelar uma reunião futura.
“Não acho que devemos parar”, disse Gebbia. “Não acho que o ímpeto deva parar.” Como exemplo, ele mencionou que um e-mail de arrecadação de fundos havia sido enviado recentemente e que “tudo o que fizemos foi retirar o P25. Todo o restante do texto permaneceu exatamente o mesmo.”
Em 8 de junho, a AFSP distribuiu um memorando interno sobre a transição. Embora nunca tenha havido um anúncio público sobre o encerramento prematuro do Projeto 2025, a AFSP fez ajustes digitais. “O link do site do Project 2025 agora redireciona para a página principal do afsp.org”, dizia o memorando. “Estamos trabalhando para criar uma página temporária que comunique as áreas de foco de forma eficaz, enquanto removemos a linguagem relacionada ao Projeto 2025.”
O memorando observava que os folhetos de segurança com armas de fogo do programa não mencionavam especificamente o Project 2025 — “portanto, continuem a solicitar e usar esses materiais em eventos de divulgação”, orientava, acrescentando que a parceria da AFSP com a NSSF continuaria.
Por fim, o memorando instruía: “Não se sintam obrigados a explicar a mudança na abordagem da AFSP em relação ao trabalho do P25 a todos os grupos ou públicos. Usem o bom senso para decidir quando é apropriado apresentar os slides como estão; quando uma simples menção à mudança pode ser necessária; e quando uma explicação completa é justificada. Para a maioria dos públicos, a mudança na forma como fazemos o trabalho e o encerramento da marca exclusiva Project 2025 pode não ser relevante.”
Não se sabe quanto dinheiro o Project 2025 trouxe para a AFSP, mas, de acordo com suas auditorias anuais, em 2022 houve um pico de quase 2 milhões de dólares em fundos restritos ao programa. Segundo a auditoria mais recente do grupo, de 2024, havia quase 1 milhão de dólares legalmente designados ao Project 2025. A AFSP não respondeu à pergunta sobre o que acontecerá, ou já aconteceu, com esse dinheiro. Enquanto isso, dados preliminares de suicídio daquele ano mostram que as mortes por suicídio com armas de fogo voltaram a subir — para 27.592.
O representante da AFSP revelou, sobre recursos financeiros, que o grupo “gastou mais de 1 milhão de dólares em fundos não restritos no Project 2025, que se estendeu além das armas de fogo para os setores correcional e de saúde.” Não está claro o que a NSSF sabe sobre o fim da iniciativa. Até setembro, o site da NSSF continha uma página que descrevia sua colaboração com a AFSP, o Project 2025 e a meta ambiciosa. Essa página agora foi retirada do ar.
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Fonte: rollingstone.com.br