O governo dos Estados Unidos está oficialmente em paralisação – o chamado shutdown – desde a 1h de Brasília desta quarta-feira (1º), porque o Congresso americano não conseguiu aprovar um projeto de lei autorizando gastos federais.
Nos últimos 45 anos, houve 14 paralisações do governo federal americano. A mais recente ocorreu entre o final de 2018 e o começo de 2019, no primeiro mandato do presidente Donald Trump, e durou 34 dias, a mais longa da história do país.
A paralisação significa que apenas setores essenciais, como Forças Armadas e hospitais financiados pelo governo federal, estarão em funcionamento. Se o impasse persistir, a economia mundial também poderá sofrer impactos.
Caso o shutdown não seja revertido até sexta-feira (3), o relatório mensal de geração de empregos nos Estados Unidos, previsto para ser divulgado nesse dia, não será publicado.
Esses dados têm importância na política de juros americana, com impactos globais, já que os títulos da dívida americana são considerados um pilar da estabilidade financeira mundial e uma referência para outros mercados.
Em setembro, o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, anunciou a redução da taxa básica de juros no país pela primeira vez desde dezembro, devido aos números fracos de geração de empregos.
Se o shutdown do governo americano permanecer até o final de outubro, quando o Fed realizará sua próxima reunião, o banco central terá que tomar uma decisão sobre a taxa de juros “no escuro”, já que não terá à disposição os dados de emprego.
A longo prazo, os impactos são mais incertos. Joe Brusuelas, economista-chefe da empresa de auditoria e consultoria RSM U.S., disse em entrevista à emissora CNBC que paralisações anteriores do governo americano resultaram “em um modesto surto de comportamento especulativo por parte de investidores globais em relação a taxas e moedas”.
“Para que haja um impacto maior nos mercados globais, a paralisação do governo dos EUA precisará passar de um mês, o que se aproximaria da paralisação recorde de 2018-2019. Caso isso ocorra, provavelmente impactará a decisão de política de juros do Fed no final do mês, o que provavelmente impactará os fluxos de massa globais, as taxas de juros e os valores cambiais”, afirmou Brusuelas.
O especialista acrescentou que eventuais demissões em massa de funcionários federais durante o shutdown, como especulado pela gestão Trump, “provavelmente resultariam em novas quedas no valor do dólar, resultando em fluxos de capital para o euro e o iene”.
Uma paralisação longa também teria efeitos no PIB americano, o maior do mundo, gerando consequências em outros países, mas o Escritório de Orçamento do Congresso apontou que a paralisação de 2018-2019 gerou perdas de apenas 0,4% na economia americana.
A longo prazo, essa queda ficaria ainda mais diluída. “Em média, o S&P 500 [índice que mede as ações de 500 ativos cotados nas bolsas de Nova York e Nasdaq] subiu cerca de 12% nos 12 meses seguintes a paralisações”, afirmou Jacob Falkencrone, chefe global de estratégia de investimentos do Saxo Bank, em declaração publicada pela emissora NBC.
Fonte: Revista Oeste