O rock britânico sempre teve suas lendas, bandas que definiram uma era e se tornaram verdadeiros monumentos culturais. Do legado dos Beatles à atitude dos Sex Pistols, a música do Reino Unido construiu uma história de gigantes. Nos anos 90, o Oasis se consolidou como a banda que, para muitos, personificou o espírito da sua geração, com hinos atemporais, guitarras e uma autoconfiança inabalável.
O anúncio da reunião provocou uma reação massiva. Fãs correram atrás de ingressos, a imprensa cobriu cada detalhe e especialistas calcularam ganhos astronômicos para os irmãos Gallagher. No meio dessa euforia coletiva, uma voz dissonante chamou atenção para algo que poucos estavam discutindo.
Ellie Rowsell, líder do Wolf Alice, usou uma entrevista à revista The Fader para levantar uma questão incômoda: será que essa obsessão por nostalgia musical está matando as chances de novas bandas emergirem?
A musicista não mede palavras ao apontar o que considera um círculo vicioso. Enquanto milhões de libras fluem para veteranos que já garantiram seu lugar na história, jovens artistas enfrentam barreiras financeiras cada vez mais altas para simplesmente começar.
“Isso não vai acontecer mais, a menos que as pessoas invistam em bandas”, declarou Rowsell, referindo-se ao fenômeno Oasis. Sua banda, mesmo sendo premiada com o Mercury Prize, conhece bem essas dificuldades.
O próprio Wolf Alice ilustra o paradoxo atual. Apesar do reconhecimento crítico e do sucesso relativo, seus integrantes admitem lutar contra custos operacionais que crescem exponencialmente. “É extremamente caro e mesmo quando você tem o apoio de uma gravadora, as pessoas não sabem que você tem que dividir tudo”, explica a vocalista.
A questão se torna ainda mais complexa quando consideramos as origens sociais dos músicos. Theo Ellis, baixista da banda, é direto: “Se você tem esse tipo de ambiente, apenas pessoas privilegiadas conseguirão fazer funcionar”.
Curiosamente, o próprio Noel Gallagher já havia identificado essa transformação demográfica da música britânica, criticando em 2022 o domínio crescente de artistas de classe média enquanto jovens de origens humildes ficam excluídos por não conseguirem arcar com os custos básicos.
A reunião do Oasis representa, portanto, mais que nostalgia: simboliza um sistema que premia o passado enquanto dificulta o surgimento do futuro. Uma contradição que pode determinar se haverá novas lendas para celebrar nas próximas décadas.
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Nascida na Argentina mas radicada no Brasil há mais de 15 anos, Daniela achou na música sua linguagem universal. Formada em radialismo pela UNESP, virou pesquisadora criativa e firmou seu pé no jornalismo musical no portal Popload. Gateira, durante a semana procura a sua próxima banda favorita e aos finais de semana sempre acha um bom show para assistir.
Fonte: rollingstone.com.br