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Como a reunião do Oasis se tornou o evento mais emocionante do ano


Meu momento favorito no show do Oasis não foi vê-los cantar “Wonderwall” ou “Champagne Supernova”. Não foram os fogos de artifício no fim da noite, nem as provocações ásperas de Liam Gallagher. Meu momento favorito da noite, o primeiro de dois shows no MetLife Stadium, em East Rutherford, NJ, aconteceu diante de uma barraca da Carvel, no primeiro nível da arena, onde vi dois homens que passavam apontarem para o peito um do outro e se abraçarem forte. O motivo do abraço? Eles estavam usando a mesma camiseta da turnê do Oasis de 1998.

“Original?”, disse um.
“Pode apostar!”, respondeu o outro.

Além de ser a turnê do verão, esses shows dos irmãos Gallagher têm sido, segundo todos os relatos, surpreendentemente positivos. “Tem vibrações de Nova Jersey na arena!”, disse Liam ao pegar o microfone pela primeira vez. “Tem vibrações de Oasis na arena!” Quem imaginaria que “vibes de Jersey” e “vibes de Oasis” seriam tão… acolhedoras e animadas?

Há alguns anos, o simples fato do evento acontecer parecia improvável. Os irmãos Gallagher passaram a maior parte dos últimos quinze anos trocando insultos. Liam tuitava fotos de Noel com a legenda “batata”, e Noel retratava Liam como inútil, descartável, difícil, ingrato e mais.

Minha provocação favorita dessa briga (talvez de qualquer briga, na verdade) é Noel descrevendo Liam como tão frustrado e impotente que parecia “um homem com um garfo em um mundo feito de sopa.”

Um insulto de altíssimo nível, mas deprimente. Para quem se importava, a situação dos Gallagher era parte da linha do tempo quebrada em que vivemos: um idiota na presidência, alumínio no desodorante, e uma das bandas mais legais do mundo fora das estradas porque dois irmãos não conseguiam parar de se bater no banco de trás.

E então, de repente, esse último problema foi resolvido. Oasis anunciou que voltaria à estrada. Como dezenas de milhares de outros, garanti meus ingressos, planejei como chegar aos pântanos de Jersey saindo de Nova York e tentei não me empolgar demais — embora vídeos arrebatadores da perna britânica da turnê já pipocassem no Instagram. “Existe uma chance”, disse um amigo meu, “deles nunca sequer chegarem ao palco.”

Talvez haja — como minha colega de show Sloane Crosley supôs — camarins separados, mas quando eles entram de mãos dadas, parece que todos pensam o mesmo: “Meu Deus, está acontecendo.” E você não precisa só pensar. Pode gritar, como fez o homem à minha frente.

Há uma sensação de ocasião especial nisso. A caminhada até o estádio, atravessando a imensidão do estacionamento, lembra a caminhada até Wembley saindo do metrô. Há gente fazendo tailgate, mercadoria não autorizada e pessoas de chapéu “bucket hat”. Há cores do Manchester City e camisas da Adidas do Oasis já esgotadas em quase todas as barracas de merch antes mesmo do Cage the Elephant terminar seu show de abertura. É uma experiência religiosa, se a religião fosse “hooliganismo de futebol.”

E o Oasis soa muito bem, aliás. A voz de Liam soava como nos álbuns, como ainda soa nos seus fones de ouvido, como você lembra das festas de adolescência em que Oasis era a trilha de fundo para suas primeiras bebedeiras.

E eles tocam, em sua maioria, os hits, quase tudo pré-1996, músicas fáceis de cantar junto. Um destaque inesperado é “Half The World Away”, tema de uma sitcom britânica que nunca entrou nas paradas dos EUA, mas cujo refrão é entusiasticamente ecoado pelo público quando a banda abre espaço para eles.

E além de assistir ao show, você assiste também às pessoas para quem isso era uma espera de décadas: o homem à minha frente era um britânico de sessenta e poucos anos; não peguei seu nome quando ele gritou no meu ouvido, mas vou chamá-lo de Terry.

Quando viu o Oasis pela primeira vez, contou, tinha acabado de conhecer a esposa, e seus filhos existiam apenas em sua imaginação. Agora, estava ao lado dessa esposa e de uma filha( que trabalha no Gotham FC, time da NWSL da região), embriagado de Heineken, britpop e da máquina do tempo em que se encontrava. “Acho”, disse Terry, quase às lágrimas, “que esta pode ser a melhor noite da minha vida.”

A sensação que a produção passa — intencional, mas surpreendentemente modesta, fora o som ensurdecedor e os fogos finais — é de que esses shows do Oasis sabem exatamente o que são: um exercício coletivo de nostalgia, sem a camada triste de ex bem-sucedido. A atração é ver os garotos juntos de novo — e você estar lá, podendo gritar as músicas com eles.

“Talvez você esteja se perguntando como é cantar isso com 60 ou 70 mil fãs do Oasis. Você está prestes a descobrir”, disse Noel ao apresentar “Don’t Look Back in Anger”. Eu nunca tinha me perguntado isso, mas adorei poder fazê-lo quando o momento chegou.

Noel, quase calado durante a primeira metade do show, deixando a pose para o irmão mais novo, parecia genuinamente emocionado. “Ninguém tem fãs como esses”, disse. “Ninguém.”

Não é incomum que as pessoas cantem junto em um show, especialmente num estádio, mas a falta de autoconsciência era notável. Esses dois mancunianos — especialmente Liam — são praticamente caracterizados por uma atitude de “não estou nem aí.”

Mas você não resolve uma briga de Caim e Abel, vende um milhão de ingressos em menos tempo do que leva para assistir a um episódio de Friends, e cria uma infinidade de mercadorias personalizadas por acaso. Você não paga 40 dólares de estacionamento por acaso. Você não dirige até Nova Jersey por diversão. Você faz isso porque quer, e porque já passou da fase de fingir que não se importa.

Oasis em 1996 parecia subversivo em seu desejo escancarado de ser rockstar. Oasis em 2025 é subversivo por entender que pode ser um pouco bobo querer isso, mas sem nenhum julgamento sobre a época em que você quis.

Nesses shows, enquanto as pessoas gritam — gritam — “Cigarettes and Alcohol” com outras 50 mil, e alguns ainda pesquisam a letra no Google, não dá para fingir que não se importa. O cinismo é para os irônicos incuráveis, para os eternamente online — e a razão pela qual essa turnê é “imperdível” é simples: por algumas horas num estádio, berrando os pulmões em “Supersonic” e outros hits, você agradece não estar preso em 2025, e sim poder voltar no tempo.

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Fonte: rollingstone.com.br

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