Você já ouviu falar em Tuvalu? Trata-se de um pequeno arquipélago na Polinésia, formado por nove ilhas e atóis, localizado no meio do Oceano Pacífico, entre a Austrália e o Havaí.
Com apenas 26 quilômetros quadrados de área e cerca de 11 mil habitantes, é um dos lugares mais remotos do mundo. Sua ilha principal, Fongafale, no atol Funafuti, concentra a maior parte da população e da infraestrutura essencial.
Hoje, o país enfrenta uma ameaça sem precedentes: a elevação do nível do mar, que coloca em risco sua própria existência e pode fazê-lo desaparecer nas próximas décadas.
Tuvalu: o que está acontecendo com um dos países mais remotos do mundo?
Segundo um estudo da Nasa de 2023, o nível do mar em Tuvalu subiu 15 centímetros nos últimos 30 anos, com um aumento anual estimado em 5 milímetros.
A projeção é alarmante: até 2050, boa parte da área habitável ficará abaixo da maré alta, inviabilizando a agricultura e comprometendo o fornecimento de água doce, que depende exclusivamente da chuva.
Além disso, secas prolongadas, ciclones mais frequentes e ressacas intensas já fazem parte da realidade do país, que sente os efeitos das mudanças climáticas de forma crescente desde a década de 1980.
Em 2021, o então primeiro-ministro, Simon Kofe, fez via streaming um discurso na Conferência do Clima da ONU que chamou a atenção mundialmente. No vídeo ele aparece de terno, com as pernas dentro da água e diz: “Não podemos esperar por discursos enquanto o mar está subindo ao nosso redor o tempo todo”, disse. “Estamos afundando”.
Entenda o acordo que o governo de Tuvalu firmou com a Austrália
Diante deste cenário, o país firmou em 2025 o Falepili Union Treaty, um acordo de migração planejada com a Austrália. Pelo tratado, 280 pessoas podem migrar para a Austrália por ano, com vagas sorteadas entre os interessados.
As inscrições foram abertas no dia 16 de junho e encerradas em 18 de julho. Mais de 5 mil habitantes se inscreveram, quase metade da população, em busca de um visto climático e de segurança.
Historicamente, o governo de Tuvalu resistiu à migração em massa, mantendo uma política de permanência na ilha. Com o passar dos anos, o governo de Fiji fez inúmeras propostas de migração que foram recusadas pelo governo local.
Em 2019, uma reportagem do jornal britânico The Guardian foi até Tuvalu, entrevistou as pessoas da região e observou que quase todos diziam que queriam permanecer ali, independentemente de quão grave a situação fosse ficando. No entanto, em seis anos, a realidade mudou: a elevação do nível do mar tornou inevitável considerar alternativas para a sobrevivência da população.
Acordo com a Austrália gerou polêmica
A questão é também econômica. Em 2019, o embaixador da Austrália nos EUA, Kevin Rudd, sugeriu oficialmente que o país da Oceania oferecesse residência fixa aos 75 mil habitantes de Tuvalu, Kiribati e Nauru (outras ilhas do Pacífico) em troca de controle sobre seus mares, suas Zonas Econômicas Exclusivas (ZEEs) e suas áreas de pesca.
O acordo, porém, gerou polêmica. Críticos, como o ex-ministro Enele Sopoaga, dizem que a medida concede à Austrália poder de veto sobre questões de segurança nacional de Tuvalu, limitando a autonomia do país.
O destino de Tuvalu, essa ilha vulnerável, resume o dilema de muitas nações insulares: resistir e se adaptar ao próprio território ou buscar sobrevivência em terras distantes, correndo o risco de perder parte de sua identidade e autonomia.
Situações semelhantes já aconteceram em outras ilhas
Tuvalu não é único nessa situação. Outras ilhas do Pacífico, como Kiribati, Maldivas e Ilhas Marshall, enfrentam ameaças semelhantes relacionadas à mobilidade climática.
Para mitigar os impactos, o país lançou o Projeto de Adaptação Costeira de Tuvalu (TCAP), construindo áreas elevadas e reforçando a costa com muros de contenção e barreiras naturais.
A segunda fase do projeto, TCAP II, em andamento desde 2024, prevê proteger 800 metros de costa e criar 8 hectares de terra elevada, com conclusão prevista para 2026. O Plano de Adaptação a Longo Prazo prevê ainda o “Te Lafiga o Tuvalu” (O Refúgio de Tuvalu), com uma área elevada que poderia abrigar toda a população até além de 2100.
O plano prevê a criação de 3,6 km² de terras elevadas e seguras, com abastecimento sustentável de água, maior segurança alimentar e energética e áreas destinadas à expansão de espaços cívicos e comerciais, como repartições públicas, escolas e hospitais.
Toda a população seria transferida para essa nova área, enquanto a região atualmente ocupada seria transformada em vegetação temporária. Posteriormente, essa vegetação seria removida para permitir a elevação do solo, que então receberia novo plantio.
Fonte: Revista Oeste