Ander Herrera vivenciou diversas culturas de futebol. Nascido em Bilbao, o meio-campista espanhol iniciou a carreira no Zaragoza e se destacou no Athletic de sua cidade natal. Depois, deu o salto internacional por Manchester United e Paris Saint-Germain antes de retornar ao clube mais popular do País Basco. Agora, aos 36 anos, vive a aventura mais “exótica” de sua carreira. No Boca Juniors, da Argentina, tenta se livrar de recorrentes problemas físicos, sem jamais abandonar o que sempre o moveu: a paixão pelo esporte.
“Para mim, é muito bonito estar aqui nessa parte do mundo, viver a paixão das pessoas nos estádios. Respeito quem vai aos Emirados Árabes, Catar, Arábia Saudita, cada um decide o que fazer de sua carreira, mas eu escolhi outra coisa para a minha”, diz Herrera, direto de Buenos Aires, em entrevista exclusiva à PLACAR, à convite de LaLiga.
Herrera narrou seu amor pelo Athletic Bilbao e pelo Dérbi Basco (contra a Real Sociedad), mas garantiu que “nada se compara” a um Boca x River ou a qualquer jogo em La Bombonera. Mostrou também acompanhar atentamente os clubes brasileiros. “Me surpreende a quantidade de equipes boas e a competitividade, tem oito a dez equipes em condições de brigar pelo título.”
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O meia espanhol, que fez apenas nove jogos pelo Boca em 2025, entrou no debate sobre a escassez de camisas 10 “clássicos” do futebol atual e citou Neymar, bom amigo dos tempos de PSG, como o melhor entre os “sobreviventes”.
“O camisa 10 desapareceu um pouco porque cada vez mais os jogadores são atletas. […] O camisa 10 que flutuava pelo meio-campo não tem mais espaço, ele pega a bola e já chega a marcação, é preciso pensar muito rápido, tem que ser perfeito para jogar aí. Mas um que me vem a cabeça e que é craque e pode dar essa alegria ao Brasil, seria Neymar.”
Outra coincidência une Herrera ao futebol brasileiro. Seu pai, Pedro Herrera, foi jogador e dirigente do Zaragoza entre os anos 1990 e 2000 e viajava com frequência para a América do Sul para recrutar talentos. Foi ele o “olheiro” responsável por contratar nomes como Cafu, Álvaro, Jamelli e Ewerthon, entre outros. “Ele contratou menos brasileiro que argentinos, mas foram vários.”
No papo, Ander Herrera citou seus favoritos ao título do Campeonato Espanhol e opinou sobre como o Athletic Bilbao consegue se manter firme, sem jamais ter sido rebaixado, mesmo não contratando estrangeiros.
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Confira a entrevista na íntegra com Ander Herrera
O futebol no País Basco é marcado por muita paixão, especialmente no clássico entre Athletic Bilbao e Real Sociedad. A atmosfera é semelhante ao dos estádios sul-americanos?
Não dá para comparar nada ao Boca, para mim é incomparável. Não tirando mérito de outras torcidas ou clássicos pelo mundo, mas o que se vive aqui em um Boca x River ou em qualquer jogo na Bombonera é algo que eu nunca havia experimentado. Mas o Dérbi Basco é especial, também por ser, digamos, um clássico sadio. Claro, todos querem ganhar, se puder humilhar o rival, ganhar de 7 a 0. Mas há um limite.
Não existe violência nessas partidas, os torcedores até se misturam nas arquibancadas, e é bonito vivê-lo como jogador e como torcedor. Creio que os clubes são especiais por esse sentido de pertencimento das pessoas. Há pessoas que nem são tão fanáticas pelo futebol, mas que torcem pelo Athletic ou pela Real Sociedad.
E como é possível que um clube como o Athletic, que não contrata estrangeiros, nunca tenha sido rebaixado e se mantenha sempre brigando na parte de cima, ainda mais em 2025, com a economia do futebol como temos hoje?
É algo único e difícil de explicar. E te diria que não tem uma explicação racional, que você só possa contar com jogadores de uma faixa de 3 a 4 milhões de pessoas, e que consiga competir com feras, com seleções mundiais, e siga sempre na primeira divisão. É algo que vai no DNA do jogador basco, de como defender a instituição e colocar a camisa por cima dos interesses individuais. Para mim, essa é a explicação.

Ander Herrera retornou ao Athletic Bilbao – EFE
LaLiga
Seu pai era diretor de futebol do Zaragoza. Ele foi responsável pela contratação de algum brasileiro?
Sim, muitos. Ele contratou o Cafu, porque acho que ele queria passar de São Paulo a outro clube, que não poderia ir direto. Então meu pai se aproveitou e o contratou por seis meses. Depois contratou o atacante Jamelli, que é uma lenda do clube. Também o zagueiro Álvaro que foi muito importante. O Ewerthon, que foi meu companheiro quando comecei, Ricardo Oliveira, Matuzalém. Ele contratou menos brasileiro que argentinos, mas foram vários.
Seu pai contratou muito bem, então…
Bom, alguma cagad* com certeza fez também (risos).
Quais são suas expectativas para esta edição de LaLiga? Vê uma possível surpresa além de Real Madrid e Barcelona?
Para mim, o Atlético de Madri. Ele investiu muito e está em condições de brigar. Não diria que tem obrigação, mas tem condições de brigar até o fim.


Andreas Pereira, Mamphis Depay e Ander Herrera pelo Manchester United – EFE/NIGEL RODDIS
Europa x América do Sul
Aqui no Brasil, estão jogando dois amigos famosos seus, Neymar, no Santos, e Memphis Depay, no Corinthians. Você acompanha algo da liga?
Sim, claro. Me surpreende a quantidade de equipes boas e a competitividade, tem oito a dez equipes em condições de brigar pelo título. É incrível. Não é só o Flamengo, tem o Botafogo, Atlético Mineiro, Palmeiras, Corinthians. O Santos, que acabou de voltar à primeira divisão, não sei se consegue brigar pelo título. Todos tem bons jogadores. Tem o São Paulo com muita história, o Fluminense do Thiago Silva, que foi meu capitão no PSG. É um futebol muito atrativo e de muito nível, o futebol brasileiro está de parabéns.
E agora há mais jogadores europeus na Argentina, como você e Muniain (que passou pelo San Lorenzo) e aqui no Brasil, como Memphis, Saul… vê como algo pontual ou é um marcado que se abre efetivamente à Europa?
Para mim é muito bonito estar aqui e essa parte do mundo, viver a paixão das pessoas nos estádios. Vocês são muito afetuosos e carinhosos, e isso transmite ao futebol. O jogador se sente parte disso muito rápido. Respeito quem vai aos Emirados Árabes, Catar, Arábia Saudita, cada um decide o que fazer de sua carreira, mas eu escolhi outra coisa para a minha. Isso fica mais no meu coração do que outro tipo de aventuras.
Camisas 10 e o ‘ET’ Lamine Yamal
Aqui no Brasil falamos muito que não há mais meio-campistas clássicos, nem aqui nem no mundo. Para você, quem são os melhores meias atualmente e o que aconteceu com os camisas 10? Por que não vemos mais um Riquelme, por exemplo?
Eu ainda acho que o exemplo de camisa 10 é Neymar. Ele está voltando a jogar, está recuperando a forma, e ainda lhe dou a possibilidade de, na Copa do Mundo de 2026, dar essa última alegria ao futebol brasileiro.
O camisa 10 desapareceu um pouco porque cada vez mais os jogadores são atletas. Os defensores e treinadores estão cada vez mais preparados. O camisa 10 que flutuava pelo meio-campo não tem mais espaço, ele pega a bola e já chega a marcação, é preciso pensar muito rápido, tem que ser perfeito para jogar aí. Mas um que me vem a cabeça e que é craque e pode dar essa alegria ao Brasil, seria Neymar.
Sobre a Copa de 2026, a Espanha também chega muito forte após o título da Euro. Acredita que essa geração pode ser tão boa como a de 2010?
Totalmente, hoje a Espanha tem uma equipe, que de fato se comporta como equipe. E tem Lamine Yamal, que é um ET. Não digo que seja como Messi, mas é quem mais se parece ao Messi nessa idade, é uma loucura. Tem Nico Williams, Pedri, Rodri, muitas possibilidades. E os times campeões sempre tem esse craque diferencial, que seria Lamine.
Fonte: Agência Brasil