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Spike Lee fala sobre Highest 2 Lowest


Deixe com Spike Lee para reinventar o remake de alto risco. Seu novo filme, Highest 2 Lowest, transforma o clássico de Akira Kurosawa de 1963, Céu e Inferno em uma aventura barulhenta, atual e cheia de humor (com Denzel Washington, Jeffrey Wright e A$AP Rocky) que é tão impactante quanto um solo dissonante de saxofone. Em uma recente conversa de Nova York, Lee explica sua analogia:

Denzel e eu neste filme, somos músicos de jazz. Respeitamos Julie Andrews cantando ‘My Favorite Things’. Mas quando John Coltrane fez, ou quando Miles fez seu standard de ‘My Funny Valentine’, é outra coisa. Por isso eu chamo isso de reinterpretar e não de remake.”

Lee, é claro, vem reinventando nosso mundo — sempre de forma provocativa — há quase quatro décadas. Desde seu sucesso indie de 1986,Ela Quer Tudo, seu humor singular e olhar peripatético conferem aos personagens uma graça salientemente heroica, destacando noções abertas de identidade negra que parecem extremamente relacionáveis. Ainda assim, ele rejeita a ideia de ser um visionário.

“Olha, as pessoas vão dizer o que quiserem, mas para mim, minha escolha seria contador de histórias”, afirma Lee.

Essas histórias são incríveis. Mais do que qualquer outro diretor do seu estilo, Lee trouxe consistentemente sensibilidades de cinema de arte para o mainstream. Seus filmes mais marcantes retratam pessoas comuns vivendo suas vidas de maneira quase “chekoviana”, com pequenas nuances de destino. Cada obra possui um aspecto pictórico, onde uma transcendência silenciosa se alinha com uma ousadia maior que a vida.

Highest 2 Lowest mantém essa tensão, oferecendo ao público um tesouro cinematográfico e um herói simpático do Bronx em David King (Denzel Washington), um magnata da música cuja riqueza o torna alvo de um sequestrador obsessivo.

A Rolling Stone conversou com Lee sobre sua interpretação desta história, o trabalho com Denzel e A$AP, o encontro com Kurosawa e muito mais.

RS: O que você acha que sua visão artística desperta em uma estrela tão grande quanto Denzel?

LEE: Eu não tenho… Isso é ele. Isso é o D. Sabe, é o seguinte: ele é a estrela. Ele é o Jordan e eu sou o Pippen. [Risos.], mas somos um time. Esse é o nosso quinto trabalho juntos, na ordem: Mais e Melhores Blues, Malcolm X, He Got Game, O Plano Perfeito… que, veja só, não parece que foi há 18 anos. O Denzel disse o mesmo. Mas não teve… não tivemos que reaprender. Quer dizer, parecia que tinha sido ontem. Então, só fico feliz que pudemos fazer de novo.

RS: A ideia clássica do protagonista parece quase oposta ao seu trabalho. Você concorda com isso?

LEE: Eu não acho. Eu sei o que você está tentando dizer, porque tive muito sucesso com filmes de elenco coletivo… Mas os cinco filmes que fiz com Denzel também foram muito bem-sucedidos. Então eu vou com o fluxo, sabe? E, olha, não dá para fazer um filme meia-boca [risos] com o Denzel. Então, você tem que fazer o que tem que fazer.

RS: Dessa vez você encarou um gigante, atualizando Céu e Inferno, de Akira Kurosawa. Por que escolheu reinterpretar esse filme?

LEE: Uma das razões pelas quais amo esse filme do Kurosawa é que ele fala sobre moralidade. O que as pessoas fazem quando são colocadas em certas situações? Precisa lembrar que um escritor chamado Ed McBain [pseudônimo de Evan Hunter, nascido Salvatore Lombini] escreveu o livro [King’s Ransom, no qual Céu e Infernofoi baseado].

Então, primeiro foi um romance americano, depois Kurosawa adaptou para o cinema. Eu queria deixar claro que isso não é um remake. É mais do que isso. Mas ao mesmo tempo, respeitando a fonte: o livro e o filme. Kurosawa é um dos gigantes do cinema e um dos meus cineastas favoritos — e eu ainda o conheci! Eu sou colecionador, e uma das coisas que mais valorizo é um lindo retrato do Kurosawa que ele autografou para mim.

E ele assinava os autógrafos com um pincel e tinta branca. Então, eu olhei muitas vezes para aquilo enquanto filmava. [Risos.] Um dos maiores cineastas de todos os tempos.

O filme que vi pela primeira vez na escola de cinema da NYU, quando tive contato com o cinema mundial, foi Rashomon. É um filme em que há um assassinato e um estupro, e ele, Kurosawa, leva o público a duvidar de quem está falando a verdade.

Usei essa premissa no meu primeiro filme, Ela Quer Tudo. Temos Nola Darling, e ela tem três namorados, e os três falam sobre quem ela é. E ela fala sobre os três namorados que tem ao mesmo tempo.

RS: Você acha que existe mais pressão sobre você para retratar o que há de digno e nobre na experiência negra, e vender isso para a cultura em geral?

LEE: Não, eu não coloco esse tipo de pressão em mim. E os negros não são um grupo monolítico. Não fazemos tudo igual nem pensamos igual. Então, eu nunca — ou tento não — ficar bravo. Sabe, quando recebo críticas dos meus irmãos e irmãs… Meus irmãos e irmãs de Chicago não gostaram de jeito nenhum de [meu filme de 2015 ambientado em Chicago] Chiraq[risos].

RS: Sério?

LEE: Bom, você não mora em Chicago. Não, eles não gostaram nada desse filme.

RS: Uau. Faz sentido você dizer que não está fazendo algo específico para os negros como um todo. Porque acho que essa ideia em si já iria contra tudo o que você sempre representou. Sempre foi algo mais amplo, mais diverso—

LEE: Nós somos tão diversos e tantas coisas. Então, para eu dizer: “Estou fazendo só uma coisa, só existe uma versão do povo negro”, quer dizer… Eu não acho isso inteligente.

RS: Você acha que é mais Jackie Robinson ou Satchel Page?

LEE: Olha, essa é uma pergunta doida. Digo isso porque o nome da minha filha é Satchel. E o nome da minha mãe é Jackie, Jacqueline, então… [risos], mas eu acho que o nome que você dá a um filho tem muito peso. Sabe? E nós, negros, e eu digo isso com muito respeito, inventamos nomes! [Risos.]

RS: Takisha, Shaquanda…

LEE: Juro por Deus! Nós inventamos nomes! [Risos.], mas é isso que somos. É quem somos. Vamos continuar fazendo isso… Quero dizer, olha só… somos criativos!

RS: Há uma cena épica em Highest 2 Lowest em que uma perseguição no metrô acontece ao mesmo tempo que a festa da Parada do Dia de Porto Rico.

LEE: Essa é a minha homenagem ao diretor Billy Friedkin e ao seu filme Operação França, com Gene Hackman. E é engraçado: a grande sequência da perseguição do metrô, do trem elevado, começa na estação que ficava ao lado da minha escola. Então, filmaram enquanto eu estava no colégio, mas eu estava em aula, então ninguém sabia que aquilo estava acontecendo lá fora. E espero que as pessoas voltem e assistam Operação França. Um grande, grande filme. Por favor, assistam Operação Françade novo. Me promete isso, certo?

RS: Prometo que vou assistir. Qual é sua lembrança mais engraçada ou interessante das interações do A$AP Rocky com Denzel no set?

LEE: Há anos, as pessoas, não só eu, diziam que o Rocky poderia ser filho do Denzel. Há anos falavam isso. E eu perguntei ao Rocky sobre isso. Ele disse: “É, por causa das minhas” — das orelhas grandes dele. Então, ter a honra e o prazer de colocar esses dois, cara a cara numa cena, isso é geracional.

Mas é o seguinte: Rocky não estava se passando por ator. Ele é ator. E entrou com tudo, porque sabia que precisava. Não dava para… isso é o Denzel! Então, a postura dele era: “Eu também tenho culhões!” [Risos.] E isso só aumentou, para mim, a força dramática entre os dois no filme e onde seus personagens estão. Um conflito geracional, além de o resto que acontece na trama.

RS: É, o Rocky realmente mandou muito bem no papel, trouxe muita energia.

LEE: Foi autêntico, não foi?

RS: Autêntico demais.

LEE: Rocky é do Harlem, mano! [Risos.] E o Denzel tem uma presença tão grande que as pessoas ficam até de pernas bambas se precisam enfrentá-lo diretamente. Esse é o poder dele. E se você não corresponde, vai ser engolido. Mas o Rocky disse: “Foda-se isso.” [Risos.] Sabe, nos esportes: os melhores jogos são os equilibrados, disputados. Não existe jogo quando um time massacra o outro. Não há drama nisso! Tô certo ou errado?

RS: Tá certo. Igual à última temporada dos Knicks.

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Fonte: rollingstone.com.br

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