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A curiosa bronca do Secos & Molhados em Ney Matogrosso que marcou o início do fim


O Secos & Molhados durou três anos, de 1971 a 1974, no auge da ditadura militar. Como uma banda de postura afrontosa, sobretudo pela figura de Ney Matogrosso, inevitavelmente foi preciso lidar com a repressão.

Só que nem sempre ela vinha de fora. Houve um episódio específico em que a censura partiu de dentro do grupo — e Ney foi o alvo.

Ainda no começo, em 1972, Ney já vinha chamando a atenção pela forma de dançar, se pintar e provocar no palco. Ele despontava como uma estrela em ascensão, mas, para os outros dois integrantes, João Ricardo e Gerson Conrad, os holofotes atraídos pelo cantor não eram de todo positivos. Ainda mais porque jogavam luz sobre a sexualidade do trio.

Certa noite, João e Gerson, acompanhados do empresário Moracy do Val, convocaram Ney para uma reunião e deram um ultimato: ele teria que abrir mão da maquiagem e da dança extravagante, pois o Secos & Molhados estava começando a ser considerada uma banda “gay”.

Ney relembrou esse episódio em entrevista recente ao programa Conversa com Bial, da Rede Globo, transcrita pela Rolling Stone Brasil:

“Eles me chamaram para um jantar num restaurante em São Paulo e aí me disseram que eu não poderia mais me pintar e dançar como eu dançava porque estavam dizendo que nós éramos um grupo de homossexuais.”

Ele acrescentou, revelando qual foi sua resposta e deixando claro que não se curvou aos colegas:

“Eu disse: ‘Mas isso é muito simples de resolver, gente. Digam que vocês não são’. Se eu parar de fazer isso (dançar e se pintar), vou sair e fazer outra coisa. Porque era o que eu sabia e o que eu queria fazer.”

A partir daí, porém, a relação entre Ney e, principalmente, João Ricardo começou a azedar. Cerca de um ano depois, no início de 1974, estaria tudo acabado entre eles.

A gota d’água para Ney Matogrosso

A gota d’água foi a entrada de João Apolináio, pai de João Ricardo, no circuito. Na avaliação de Ney, ambos tramaram para tirar o empresário Moracy do Val para que Apolinário assumisse o gerenciamento do Secos & Molhados.

Ao podcast Papo com Clê (via site Igor Miranda), Ney contou:

“Decidi que ia sair da banda quando nós fomos pro México e nosso empresário (Moracy do Val) não apareceu por lá porque tinha mudado, o pai do João Ricardo tinha virado nosso empresário no lugar do nosso empresário e eu fui contra. Imediatamente eu fui contra. Aí me disseram: ‘Você assinou pra ele sair’. Eu disse: ‘Eu assinei para ele sair? Eu não quero que ele saia, como que assinei para ele sair?’ Porque me deram uns papéis pra assinar para o escritório continuar funcionando. Só que eu achava que o Moracy ia com a gente. Quando chegou no aeroporto que o Moracy não aparecia, eu já comecei a ficar desconfiado.”

Rompimento do Secos & Molhados

O segundo álbum do grupo, homônimo ou também conhecido como Secos & Molhados II (1974), foi lançado já com o fim iminente. Apesar de contar com ótimas canções, tais como “Flores Astrais”“Não: Não Digas Nada”, “Oh! Mulher Infiel” e “Voo”, o disco não teve a mesma repercussão da estreia e praticamente caiu no ostracismo ao mesmo tempo em que Ney Matogrosso decidiu sair, resultando no fim do grupo e em carreiras solo dos envolvidos.

Com outras formações, o Secos & Molhados voltou a existir entre 1977 e 1980, 1988, 1999 a 2000 e de 2011 até 2012. Lançou sete álbuns sem Ney. O maior hit na ausência do cantor, “Que Fim Levaram Todas as Flores?”, integrou o disco Secos & Molhados III (1978).

Por sua vez, Matogrosso deu início a uma longeva carreira solo com o álbum Água do Céu – Pássaro (1975), que não obteve a repercussão esperada. O êxito comercial retornou com Bandido (1976). Dezenas de discos foram lançados desde então — o mais recente, Nu Com a Minha Música, chegou em 2021, ocasião do 80º aniversário do artista.

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Fonte: rollingstone.com.br

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