A Argentina, desde maio, vem enfrentando uma crise sanitária relacionada ao fentanil, e nesta quinta-feira (14), o país chegou à marca de 96 mortos pelo medicamento contaminado — substância que pode vir a ser 100 vezes mais potente que a morfina.
As novas mortes ocorreram em casos confirmados em hospitais em Formosa, a província mais ao norte da Argentina, Córdoba, a 700km de Buenos Aires e Santa Fé, no centro-leste do país.
Nos pacientes vítimas da substância contaminada, foram encontradas cepas das bactérias Klebsiella pneumoniae e Ralstonia pickettii, sendo algumas resistentes a múltiplos antibióticos. Para os investigadores, a fonte era o fentanil, rastreado até a farmacêutica HLB Pharma e o Laboratório Ramallo, onde a empresa fabrica os medicamentos.
Segundo o juiz federal Ernesto Kreplak, testes realizados pela Anmat, a agência reguladora de medicamentos do país, confirmaram infecções bacterianas em pacientes e em ampolas de dois lotes de fentanil preparados pela HLB Pharma — um dos quais havia sido “amplamente distribuído”.
Ao jornal La Nación, o dono da farmacêutica, Ariel García Furfaro, negou que as mortes pudessem ser diretamente atribuídas aos produtos da HLB Pharma. Ele reiterou que a companhia retirou o medicamento de circulação e alegou que, se as ampolas estivessem comprometidas, alguém teria “plantado” as bactérias.
As autoridades afirmam que a substância contaminada pode ter afetado mais de 300 mil ampolas distribuídas pela província e cidade de Buenos Aires, Santa Fé, Córdoba, Formosa.
“A Argentina nunca viveu um caso tão grave. É inédito”, afirma Adriana Francese, advogada de quatro familiares das vítimas.
Alejandro Ayala disse à agência de notícias AFP na semana passada que o fentanil causou a morte de seu irmão, Leonel, de 32 anos, “em poucos dias”.
A mãe de Renato Nicolini, de 18 anos, hospitalizado após um acidente de carro e que faleceu devido a uma infecção bacteriana causada pela substância afirmou à agência de notícias EFE que “ele começou a melhorar aos poucos e, no terceiro dia, descobriram que ele estava com pneumonia. Sua febre não pôde ser controlada e, sete dias depois, ele morreu.”
Mesmo após o recolhimento de parte dos lotes, o número de mortes continua aumentando. Os investigadores vêm analisando cada vez mais casos de pacientes que morreram nos últimos meses após receberem o medicamento.
A HLB Pharma, até o presente momento, não é alvo de processos. Entretanto, o juiz Kreplak nomeou 24 pessoas envolvidas na fabricação e venda da substância como suspeitas — congelando seus bens e as proibindo de deixar a Argentina.
A advogada Francese detalhou que até o momento, a investigação está analisando como os lotes contaminados foram fabricados, assim como os controles de qualidade foram implementados. “Isso será muito importante para determinar os responsáveis”, afirmou.
Fonte: Revista Oeste