Este episódio do Podcast 15 Minutos, discute crescentes tensões diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos, impulsionadas pelo alinhamento do governo brasileiro com a China e os países do BRICS. Aborda o impacto de um “tarifaço” americano sobre produtos brasileiros e a falta de comunicação direta entre os presidentes Lula e Trump.
A discussão se estende à influência chinesa na economia brasileira, especialmente nos setores automotivo e de mineração, e à dependência brasileira do agronegócio em relação à China.
Além disso, o podcast examina as preocupações dos EUA com a situação dos direitos humanos e das liberdades políticas no Brasil, particularmente as ações do Ministro Alexandre de Moraes do STF, e as sanções Magnitsky aplicadas a autoridades brasileiras.
Brasil se aproxima da China e amplia distanciamento dos EUA em meio a tensões diplomáticas e sanções
Por [Redação] — Gazeta do Povo
As relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos atravessam um dos momentos mais delicados dos últimos anos. Um conjunto de fatores — que inclui alinhamento político com a China, medidas econômicas polêmicas e críticas sobre direitos humanos — vem ampliando a tensão entre os dois países e reforçando o afastamento do governo brasileiro de Washington.
O cenário ganhou contornos mais críticos após o anúncio, pelo governo norte-americano, de um “tarifaço” de 50% sobre produtos brasileiros, atingindo setores estratégicos da economia nacional. A medida, segundo analistas, seria reflexo não apenas de divergências comerciais, mas também de posicionamentos políticos recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Aproximação com a China e os BRICS
Enquanto a relação com Washington esfria, Brasília reforça laços com Pequim e outros integrantes do bloco BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Nos últimos dias, Lula manteve contatos telefônicos com os líderes da Índia, Rússia e China — mas até agora não conversou diretamente com o presidente Donald Trump, que assumiu novamente a Casa Branca.
A recente visita oficial de Lula ao presidente Xi Jinping consolidou a aproximação. A viagem contou até com um jantar polêmico em que a primeira-dama, Janja Lula da Silva, teria pedido apoio do governo chinês para regulamentar redes sociais no Brasil.
No setor econômico, a influência chinesa é cada vez mais evidente. Grandes montadoras da China, como a BYD, avançam no mercado brasileiro, e o governo estuda reduzir o imposto de importação de peças automotivas, medida que beneficiaria diretamente empresas do país asiático. As quatro maiores fabricantes instaladas no Brasil (Volkswagen, Toyota, General Motors e Stellantis) já alertaram que, se a mudança for confirmada, poderão reduzir investimentos previstos de R$ 180 bilhões para R$ 60 bilhões, além de cortar até 15 mil postos de trabalho diretos e indiretos.
Dependência no setor de mineração e agronegócio
A China também lidera a compra de minérios brasileiros, respondendo por 280 milhões de toneladas exportadas anualmente — mais de 14 vezes o volume vendido ao segundo colocado, a Malásia. Empresas chinesas têm adquirido ativos estratégicos de ferro, níquel, estanho, lítio e nióbio no Brasil, investindo bilhões de reais em operações nos estados de Goiás, Mato Grosso, Pará e Bahia.
No agronegócio, o peso é igualmente expressivo: o país asiático absorve 73% da soja brasileira, 59% da carne bovina e um terço do algodão produzido no Brasil. Especialistas alertam que a elevada dependência deixa o setor vulnerável a eventuais mudanças na política comercial chinesa.
Geopolítica e Guerra Fria 2.0
Para analistas internacionais, o contexto atual se insere no que tem sido chamado de “Guerra Fria 2.0”, marcada pela disputa tecnológica e econômica entre Estados Unidos e China. O controle sobre minerais estratégicos, como as chamadas terras raras — essenciais para semicondutores e tecnologias de ponta — está no centro da rivalidade. Nesse cenário, a postura brasileira de privilegiar acordos com Pequim é vista com preocupação por Washington.
Críticas de Washington e sanções contra autoridades brasileiras
Além da pauta comercial, o governo americano deve intensificar críticas à situação dos direitos humanos e das liberdades políticas no Brasil. Segundo informações antecipadas, o próximo relatório anual do Departamento de Estado — tradicionalmente publicado no primeiro semestre — destacará preocupações com decisões do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), especialmente no campo da liberdade de expressão.
O clima já é tenso devido à aplicação da Lei Magnitski, que permite sanções contra indivíduos acusados de corrupção ou abusos de direitos humanos. O pacote já resultou no cancelamento de vistos de oito ministros do STF e de familiares, incluindo o filho do ministro Luís Roberto Barroso, que trabalhava nos Estados Unidos. Há expectativa de que novas sanções atinjam outros magistrados e pessoas próximas, inclusive ligados ao ministro Alexandre de Moraes.
Cenário incerto
A combinação de pressões econômicas, disputas comerciais e divergências políticas aponta para um período de incertezas nas relações Brasil–EUA. Sem sinais de diálogo direto entre Lula e Trump, e com a China ampliando sua presença na economia brasileira, especialistas preveem que a tendência é de aprofundamento do distanciamento, com impactos diretos nos setores industrial, agrícola e de exportação de recursos minerais.
Fonte: Revista Oeste