PUBLICIDADE

Michael Lydon, editor fundador da Rolling Stone, morre aos 82 anos


Michael Lydon, veterano jornalista musical que atuou como editor assistente original da Rolling Stone EUA quando a revista operava de um pequeno loft em São Francisco com uma equipe reduzida supervisionada pelo cofundador Jann Wenner, morreu em 30 de julho, aos 82 anos.

Sua esposa, Ellen Mandel, confirmou a morte ao The New York Times, acrescentando que a causa foram complicações da doença de Parkinson.

Quando a edição inaugural da Rolling Stone chegou às bancas, em 6 de novembro de 1967, um artigo investigativo de Lydon sobre fundos desaparecidos do festival Monterey Pop ocupava a primeira página. “Meses após o Mamas and Papas encerrar o show na madrugada de segunda-feira, um gosto ligeiramente amargo ainda permanece”, ele escreveu. “O que foi um festival para alguns, foi um passeio gratuito para outros. A maioria dos artistas chegou lá com talento, alguns com influência. Um festival que deveria — e poderia — ter sido totalmente transparente ainda deixa perguntas feitas e sem resposta.”

Jann não queria ser apenas um fanzine”, disse Lydon à Rolling Stone em 2017. “Não ia ser só: ‘Ah, toda estrela é maravilhosa e todo negócio é lindo’ e tudo mais. Isso foi o pequeno jornalismo investigativo que Jann queria. Ele queria que estivesse na primeira edição para dizer: ‘O material do Matt Taibbi e todo o mundo da Rolling Stone, de certa forma, vêm disso.’”

Antes de conhecer Wenner e integrar a equipe original da revista, Lydon era repórter de música pop na Newsweek. Em janeiro de 1967, foi transferido do escritório de Londres para São Francisco, justamente quando a cena musical da cidade explodia com Grateful Dead, Jefferson Airplane e todos os eventos no Fillmore.

“Uma das primeiras coisas a que fui foi o Human Be-In”, disse ele em 2017, referindo-se ao famoso evento de 1967 no Golden Gate Park, em São Francisco, com apresentações ao vivo de Jefferson Airplane, Grateful Dead, Big Brother and the Holding Company, Quicksilver Messenger Service e Blue Cheer. “Aquilo foi um dos passos que colocou toda a coisa hippie em movimento, um encontro das tribos, como chamavam. E eu estava constantemente procurando histórias nesse campo”.

A lembrança exata de Lydon sobre quando conheceu Wenner era um pouco vaga, mas ele acreditava que foi na área de imprensa do Monterey Pop Festival, em junho de 1967. Algumas semanas depois, Wenner o convidou para um café e contou sobre os planos de criar uma nova revista de rock. “Basicamente, ele me disse: ‘O tempo da Esquire acabou. Há uma nova sensibilidade que precisa de um ponto de vista. Há artistas realmente interessantes para entrevistar. Há questões sociais a cobrir’”, lembrou Lydon. “Ele já tinha o nome e o logotipo da Rolling Stone naquela época. Baron Wolman entrou como fotógrafo da equipe, e Jann me pediu para, essencialmente, atuar como editor-chefe.”

Era uma proposta arriscada, especialmente porque Lydon tinha um bom emprego na Newsweek. Mas ele estava exausto da rotina e de trabalhar em matérias nas quais não recebia crédito. “Na Newsweek, eu mandava um relatório de São Francisco e aquilo virava apenas material bruto para o editor em Nova York”, disse. “Ele simplesmente incluía no próprio texto. Eu estava realmente insatisfeito com isso. Eu queria meu próprio nome.”

A Rolling Stone foi a chance de ajudar a construir algo do zero e receber o devido reconhecimento. E, mesmo 50 anos depois, ele ainda conseguia visualizar seus primeiros dias no loft da Brannan Street. “Trabalhávamos acima de uma gráfica”, contou. “E não havia nada do lado de fora que dissesse o que era. Entrávamos por uma porta lateral e subíamos um lance de escadas. Era só um sótão clássico. Empoeirado, quase nada lá dentro. Mas tínhamos a sensação de que era uma tabula rasa, uma folha em branco. Começaríamos dali, e isso era empolgante.”

Além da investigação sobre o Monterey Pop, Lydon escreveu um perfil rápido do pioneiro do rock dos anos 1950 Bill Haley para a primeira edição. “Eu estava em Reno fazendo uma matéria sobre um festival aéreo para a Newsweek”, disse. “Vi que Bill Haley estava tocando na esquina. Então, simplesmente fui até lá e consegui uma pequena história sobre ele. Foi puro acaso”.

Muitos artigos daquela edição saíram sem assinatura, incluindo uma reportagem sobre Grateful Dead sendo preso por policiais de narcóticos em sua casa, em São Francisco. “Talvez eu tenha escrito isso”, disse Lydon. “Não queríamos colocar nossos nomes em tudo porque isso mostraria quão poucas pessoas trabalhavam no jornal”.

Quando a edição finalmente ficou pronta, Lydon, Wenner e boa parte da equipe desceram à gráfica para vê-la sair das máquinas. A princípio, nada aconteceu, enquanto os técnicos apertavam parafusos e ajustavam as chapas metálicas. “De repente, a máquina começou a fazer ‘kabunk, kabunk, kabunk’”, lembrou. “E a cada ‘kabunk’, surgia uma Rolling Stone, ainda molhada. Abrimos champanhe e brindamos. Foi muito, muito emocionante”.

Dias depois, receberam retornos de Eric Clapton, John Sebastian e pessoas de todo o país. E, nas semanas seguintes, Lydon escreveu uma dura crítica ao álbum Get That Feeling, de Jimi Hendrix (“Esse disco mal representa o que Hendrix está fazendo agora e é um constrangimento para ele como músico”), um perfil de Smokey Robinson (“Desde que os Beatles e os Beach Boys abandonaram o padrão de single seguido de álbum voltado ao público adolescente do AM, William ‘Smokey’ Robinson reinou sozinho”) e uma matéria sobre o ícone do rockabilly Carl Perkins (“Carl, agora com 36 anos, a extensa calvície coberta por um topete postiço e os dentes da frente substituídos por uma placa”).

Mas seu tempo na Rolling Stone foi relativamente breve. “Eu realmente queria ser freelancer”, disse. “Não queria trabalhar apenas para Jann Wenner. Queria escrever para quem comprasse meus artigos. Escrevi para a Rolling Stone algumas vezes depois das férias de Natal [de 1967], mas já não fazia parte da equipe”.

No início dos anos 1970, Lydon lançou o livro Rock Folk: Portraits from the Rock ‘N Roll Pantheon, uma coletânea de artigos sobre Chuck Berry, Perkins, Robinson, Grateful Dead, Janis Joplin e os Rolling Stones. Ele também começou a se apresentar em clubes de folk como dupla com Mandel, com quem se casou em 1981.

“Após anos ouvindo avidamente, achei que acrescentaria minha voz ao coro mundial do pop”, escreveu Lydon em seu site oficial. “Ellen e eu estreamos num café em Berkeley e depois começamos a subir a todo palco que encontrávamos, um deles um show de talentos sem cachê em São Francisco com Robin Williams. (…) Nos mudamos para Manhattan, juntando-nos a todos os jovens ambiciosos que montavam seus números na Big Apple. Abrimos shows em faculdades e clubes de rock para Muddy Waters, Manhattan Transfer e Mose Allison. Ellen começou a compor para teatro; eu toquei durante anos no metrô.”

Nos anos 1990, Lydon escreveu o livro Ray Charles: Man and Music. “A música me abriu para sons magníficos e ideias desafiadoras”, escreveu ele no site. “Em cada nota que toco, tento condensar tudo o que já ouvi e devolver isso, como eu, para quem quiser escutar. Quando recebo de volta sorrisos bobos de casais dançando ao meu ritmo e cantando o refrão, agradeço às minhas inspirações, mas também penso: ‘Cuidado, mundo, aí vem Michael Lydon!’”

+++LEIA MAIS: Filme sobre Ozzy e Sharon Osbourne continua em produção; saiba mais



Fonte: rollingstone.com.br

Leia mais

PUBLICIDADE