Todos os amantes de futebol já ouviram falar da temida lesão no joelho conhecida como LCA, acrônimo de Ligamento Cruzado Anterior.
Diversas estrelas do esporte sofreram com o infortúnio, como Neymar, em 2023, quando torceu o joelho e passou quase um ano afastado dos gramados. No passado, o holandês Ruud van Nistelrooy também enfrentou um longo período de recuperação após o rompimento do LCA, perdendo a chance de disputar a Euro-2000 com a Holanda.
A ruptura do ligamento exige cirurgia e meses de fisioterapia. Os avanços da medicina, no entanto, vem trazendo boas notícias, com atletas voltando ao desempenho com mais cautela e segurança. É uma lesão que assusta não só pelo impacto físico, mas também pelos efeitos mentais, que podem comprometer a confiança e a performance no retorno.
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Um caso que surpreendeu o mundo foi de Zlatan Ibrahimović. Em 2022, o sueco rompeu o ligamento, mas mesmo lesionado, seguiu jogando por cerca de seis meses, algo extremamente raro e perigoso.
“Nos últimos seis meses, tenho jogado sem o ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo. O joelho está inchado há seis meses. Só consegui treinar com a equipe dez vezes nos últimos seis meses. Tomei mais de vinte injeções . Esvaziei meu joelho uma vez por semana durante seis meses. Analgésicos todos os dias durante seis meses. Eu mal dormi de dor por seis meses” disse o jogador.
Tire suas dúvidas sobre a lesão de Ligamento Cruzado Anterior (LCA)
Para entender um pouco mais dessa lesão que vem sendo tão recorrente, quais esportes e posições são mais vulneráveis, e como a prevenção pode fazer a diferença, PLACAR procurou o Dr. João Grangeiro, presidente da SBRATE (Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte).
Confira a entrevista:
Por que a lesão no LCA tem se tornado cada vez mais comum entre os atletas?
O que existe hoje em dia é a possibilidade de fazer o diagnóstico de forma precoce. Eu não sei se essa afirmativa de ter se tornado cada vez mais comum entre os atletas procede, eu acho que hoje o que está acontecendo é a possibilidade, é o conhecimento de você poder fazer o diagnóstico da lesão do ligamento cruzado anterior de maneira mais precoce. E fazendo esse diagnóstico, é claro que você acaba identificando um número maior de pessoas que sofrem com a lesão do LCA. Os meios diagnósticos melhoraram.
Existem esportes mais propensos a esse tipo de lesão? Quais?
Exatamente aqueles esportes em que você demandam mais o mecanismo de pivô do joelho. Como o futebol, o handebol, o esquí, o esquí alpino, sobretudo, o basquete, futebol de salão, ou seja, modalidades que envolvam mudança de direção muito rápida, muito súbita, e com muita intensidade.
O tipo de gramado (natural, sintético ou híbrido) influência no risco de lesão?
Não. Os trabalhos que existem hoje não afirmam, ou seja, isso não é uma coisa contestada. Nào há como dizer que no sintético há possibilidade maior de romper mais o cruzado do que no outro tipo de gramado.
Fatores genéticos influenciam na predisposição a essa lesão?
Aparentemente não.
Qual o papel da preparação física na prevenção da lesão do LCA?
É muito importante você buscar um equilíbrio muscular, entre agonistas e antagonistas do joelho, é sempre de bom alvitre para que você esteja, na realidade, prevenindo a lesão do ligamento cruzado anterior.
O que exatamente acontece no joelho quando o LCA é rompido?
É a destruição do ligamento cruzado anterior. O joelho perde a capacidade de evitar os movimentos normais do joelho, ou seja, a ausência do ligamento faz com que o joelho passe a ter determinados movimentos considerados anômalos. Aumenta muito a instabilidade dessa articulação.
O rompimento do LCA pode afetar outras partes do joelho, como menisco ou cartilagem?
Sim, definitivamente. Rompimento do ligamento cruzado anterior pode ocasionar lesões secundárias, como lesões meniscais e lesões importantes da cartilagem.
Depois de romper o LCA, o joelho volta a ser 100% como antes? Ou o atleta sempre fica com alguma limitação?
Não. Hoje a proposta do tratamento cirúrgico é para devolver a estabilidade do joelho e reparar aquelas lesões que porventura estejam associadas. Sem dúvida alguma, isso confere ao atleta possibilidade de retorno ao esporte de maneira plena.
É possível o atleta optar por não operar? Em quais casos?
É extremamente difícil, o atleta que faça a opção por não operar, se ele está envolvido no esporte de muita intensidade, onde os movimentos rotacionais são cobrados nos gestos esportivos. Esse atleta não vai conseguir realizar a prática esportiva sem fazer a reconstrução do ligamento cruzado anterior.
Como é o processo cirúrgico para reconstrução do LCA?
A gente procura uma estrutura no corpo humano semelhante ao ligamento, que são os tendões, para fazer a reconstrução do ligamento cruzado anterior.
Quantas cirurgias de LCA um atleta pode fazer ao longo da carreira?
Eu sinceramente espero que uma só. Se o atleta precisa fazer várias cirurgias para o ligamento cruzado anterior durante a carreira, isso vai, sem dúvida alguma, piorar muito o prognóstico dessa lesão e pode vir a ser um fator limitante na carreira desse atleta, sem dúvida alguma.
Quanto tempo após a cirurgia o atleta já consegue realizar atividades simples do dia a dia, como caminhar ou dirigir?
Geralmente, nas duas primeiras semanas, três primeiras semanas no máximo, ele já está apto a ter uma atividade diária normal.
Em média, quanto tempo leva para um atleta profissional retornar após romper o LCA?
Hoje, o que é preconizado pela bibliografia e é o que também confere com a experiência de vários clubes, enfim, e vários cirurgiões que especificamente tratam de atletas, nós falamos alguma coisa em torno de nove meses, na realidade.
O retorno precoce aos gramados aumenta o risco de nova lesão?
Os trabalhos hoje mostram que sim.
É comum romper novamente o ligamento após a recuperação?
Não, comum não é, mas existe uma percentagem pequena e isso infelizmente pode acontecer.
Já viu casos de atletas que não conseguiram voltar ao mesmo nível após a lesão? Por quê?
Existem inúmeros fatores que, na realidade, podem contribuir para o atleta não chegar a performar no mesmo nível de antes. Isso pode se dever a inúmeros fatores, inclusive fatores psicológicos também.
A recuperação mental é tão importante quanto a física nesse processo?
Sem dúvida alguma, a recuperação psicológica faz parte de todo o processo de retorno à atividade esportiva.
Fonte: Agência Brasil