PUBLICIDADE

A música que fez um debilitado Raul Seixas retomar forças ao gravar antes de morrer


Ao longo da década de 1980, sobretudo na segunda metade, Raul Seixas foi definhando tanto musicalmente quanto no que se refere à saúde. Entregue ao alcoolismo, lidando com diabetes e já tendo retirado uma parte do pâncreas, o Maluco Beleza vivia seus últimos dias na Terra.

O suspiro final do artista veio a partir de 1988, quando foi convidado pelo amigo Marcelo Nova, ex-Camisa de Vênus, a fazer turnês conjuntas e a gravar um disco novo, a A Panela do Diabo (1989). Seria o álbum derradeiro de Raul.

Segundo relato de Marcelo, que conheceu Raul Seixas em 1984, a situação do ícone do rock brasileiro era deprimente. Ele contou à revista Trip, em matéria especial publicada em 1998, que o artista já não existia mais. Antes da parceria, Raul estava à beira da morte.

“Na verdade, não havia mais carreira. Ele estava parado há quatro anos, longe de seu público. Um dia cheguei em sua casa e ele estava sem um dente, abatido, bêbado, pesando 55 quilos. Alguma coisa precisava ser feita, não dava para assistir aquilo de braços cruzados. Levei Raul ao médico da minha família, que o examinou do cabelo à unha do pé e me disse que a única coisa a receitar era trabalho, já que ele se recusava a parar de beber.”

A ideia de gravar o álbum A Panela do Diabo foi uma tentativa de revigorar um dos maiores nomes da música brasileira. E, de certa forma, funcionou. Ainda que por um curto espaço de tempo, Raul melhorou e conseguiu se despedir com um disco forte e à altura de seu legado.

A performance de Raul Seixas em “Nuit”

De acordo com relato do produtor Pena Schimidt, que conduziu as gravações, isso ficou explícito na música “Nuit”. Essa canção havia sido composta por Raul em 1981, mas até então nunca havia sido registrada. Simbolicamente, ela ficou guardada para o “canto do cisne”, a despedida do Maluco Beleza.

Pena conta que a rotina de estúdio era em marcha lenta, respeitando as condições delicadas de Raul, já bastante debilitado:

“O ritmo das gravações obedecia ao ritmo de Raul. Gravávamos uma estrofe de manhã, parávamos à tarde, retornávamos no dia seguinte e assim foi durante o tempo todo.”

No entanto, quando chegou a hora de gravar “Nuit”, o produtor viu Raul encontrar as últimas forças para cantar e, ainda que de forma breve, retomar o espírito rebelde e indomável que havia encantado o Brasil na década de 1970.

Pena Schimidt relembra:

“Ele pediu para que todas as luzes fossem desligadas e exigiu gravar os vocais numa tacada só, sem retoques. E assim foi, apesar de Raul ter perdido a voz nos últimos versos. Quando as luzes se acenderam, todos no estúdio estavam com os olhos rasos d’água, porque entendiam que aquela letra era um bilhete de despedida.”

Uma despedida na letra

A própria letra de “Nuit”, em si, permite uma interpretação de despedida, de quem sabe que está perto do fim e que em breve receberá o “beijo” da morte.

E quão longa é a noite
A noite eterna do tempo
Se comparado ao curto sonho da vida

Chega enfeitando de azul
A grande amante dos homens
Guardando do sol, seu beijo incomum….. Ah!

Apesar de ter criado “Nuit” em 1981, Raul foi adiando sua gravação até não poder mais. A música nasceu quando o cantor e compositor baiano estava, de fato, prestes a morrer.

A Panela do Diabo e a morte de Raul Seixas

A Panela do Diabo, 15º e último álbum de estúdio de Raul Seixas, foi lançado em 19 de agosto de 1989. Raul morreu dois dias depois, em 21 de agosto, aos 44 anos.

+++ LEIA MAIS: Como era tratar Raul Seixas nos anos antes da morte, segundo médico
+++ LEIA MAIS: Quando confundiram Raul Seixas com impostor dele mesmo — e o prenderam
+++ LEIA MAIS: O baixo valor de herança deixado por Raul Seixas em inventário



Fonte: rollingstone.com.br

Leia mais

PUBLICIDADE