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Os 3 truques que fizeram os Beatles se destacarem, segundo Paul McCartney


O que fez os Beatles atingirem o sucesso? Não dá para responder a essa pergunta de modo simplificado. Para além do grande talento artístico, o grupo inglês trabalhou duro, surgiu no momento certo, absorveu as influências mais certeiras e, por que não, contaram com um pouquinho de sorte — algo essencial na vida de qualquer um, pois elementos alheios à vontade própria também podem favorecer.

Na opinião de Paul McCartney, três pontos específicos ajudam a explicar o êxito comercial de sua banda. Todos eles têm a ver com diferenciais; pontos que faziam o Fab Four de Liverpool se destacar em meio à multidão.

Beatles (E-D): Ringo Starr, Paul McCartney, John Lennon, George Harrison – Foto: Bettmann / Getty Images

O assunto foi abordado em entrevista de 1990 à Guitar Player. Veja a seguir:

O que fez os Beatles se destacarem

1) Escolher covers obscuros

Enquanto desenvolvia suas habilidades como compositores, os Beatles tocavam canções criadas por outros artistas. Na visão de Paul McCartney, lidar com um repertório menos óbvio, com músicas que passavam despercebidas, ajudou bastante — além de executarem faixas diferentes de seus “concorrentes”, eles até deixavam o público na dúvida se aquelas obras eram deles próprios.

“Trabalhamos em músicas obscuras com os Beatles. Havia um bom motivo também: todas as outras bandas conheciam os sucessos. Todo mundo conhecia ‘Ain’t That a Shame’. Todo mundo conhecia ‘Bo Diddley’, do Bo Diddley. Mas nem todo mundo conhecia ‘Crackin’ Up’ [do Bo Diddley]. Quase ninguém conhece ‘Crackin’ Up’ até hoje — era só um dos lados B dele que eu adorava. Não sei o quão incrível é, mas eu gosto.”

Beatles em 1963 (E-D): Paul McCartney, Ringo Starr, John Lennon e George Harrison
Beatles em 1963 (E-D): Paul McCartney, Ringo Starr, John Lennon e George Harrison – Foto: Hulton Archive / Getty Images

De acordo com Paul, o fato de serem canções menos óbvias fazia até com que ele e seus colegas interpretassem o material com mais vigor. Como não eram as “mesmas músicas de sempre”, havia certo frescor.

“Costumávamos procurar lados B — uma jogada inteligente! — e faixas obscuras de álbuns porque se nos envolvêssemos o suficiente para dar algo especial a elas, só por estarmos apaixonados por elas, você as cantava bem. John [Lennon], por exemplo, cantou ‘Anna’ [do Arthur Alexander], no primeiro álbum dos Beatles. Era obscuro, os DJs tocavam nas casas noturnas. Levávamos o disco para casa e aprendíamos músicas assim: ‘Three Cool Cats’ [Coasters], ‘Anna’, ‘Thumbin’ a Ride’ [Coasters] — milhões de músicas incríveis.”

2) Explorar a limitação dos equipamentos

Quando os Beatles estiveram ativos, na década de 1960, os equipamentos de som ainda eram bem pouco evoluídos, devido à tecnologia que existia no período. Era fácil sobrecarregar e até danificar esse tipo de aparelhagem. Acabou por se tornar uma vantagem, pois a banda aumentava volumes e outros controles para obter, naturalmente, uma quantidade satisfatória de distorção — inclusive nos violões.

Beatles em estúdio em 1963 (E-D): George Harrison, Paul McCartney, Ringo Starr e John Lennon
Beatles em estúdio em 1963 (E-D): George Harrison, Paul McCartney, Ringo Starr e John Lennon – Foto: Michael Ochs Archives / Getty Images

Ele inicia o relato:

“As máquinas daquela época eram mais fáceis de serem danificadas. Você poderia realmente sobrecarregar uma mesa de som. Agora, isso não é mais possível. Uma mesa novinha em folha é construída para idiotas como nós pisarem nela. Tínhamos um ótimo truque com violões, como em ‘Ob La Di, Ob La Da’. Eu toquei violão nela, uma oitava acima da linha do baixo. Deu um som ótimo — como quando você tem dois cantores cantando em oitavas, reforçando a linha de baixo.”

Beatles em estúdio em 1968 (E-D): John Lennon, George Harrison e Paul McCartney
Beatles em estúdio em 1968 (E-D): John Lennon, George Harrison e Paul McCartney – Foto: Keystone Features / Getty Images

Em seguida, complementa:

“Pedimos para eles gravarem os violões quando o medidor chegava já no vermelho. Os engenheiros de gravação diziam que ficaria horrível, mas nós adorávamos aquele som que era considerado um ‘erro’. Então, gravamos tudo no vermelho. Essas placas antigas distorciam o suficiente, comprimiam e sugavam. Sou um grande fã de discos de blues e coisas assim, onde nunca há um momento de som limpo. Nada era limpo. Era sempre um microfone velho e frágil preso em algum lugar perto do guitarrista. Você conseguia ouvir o pé dele mais do que algumas coisas.”

3) A importância do baixo

Soa suspeito que Paul McCartney aponte o baixo como um diferencial, já que era seu instrumento principal nos Beatles. Todavia, seu relato não está equivocado: o instrumento grave exerce gigantesca influência na sonoridade de uma banda de rock, ainda mais quando há influências soul/R&B, como no caso do Fab Four de Liverpool.

De início, McCartney apostava em linhas de baixo mais simples, ancoradas na tônica, nota principal que também rege a guitarra. Com o tempo, ele passou a experimentar mais, seguindo a linha popularizada por James Jamerson, ícone da Motown que, curiosamente, permaneceu anônimo por décadas, já que não era creditado por seus trabalhos pela gravadora.

Paul McCartney com os Beatles em 1966
Paul McCartney com os Beatles em 1966 – Foto: Getty Images

Paul comenta:

“Eu realmente não queria tocar baixo, mas comecei a ver algumas coisas interessantes. Uma das primeiras foi na música ‘Michelle’ [do álbum Rubber Soul]. Tem aquele acorde descendente na parte ‘words I know that you’ll understand, Michelle’. Se eu tocasse a nota Dó [C], depois passasse para Sol [G] e depois para Dó [C] de novo, aquilo realmente transformava o fraseado. Foi ali que percebi que baixo realmente poderia mudar uma música.”

A maior influência do Beatle nesse sentido foi um “rival” — no bom sentido. Ele comenta:

Brian Wilson provou caminhos diferentes em Pet Sounds [1966], álbum dos Beach Boys muito influente para mim. Se você está em Dó e toca em Sol — algo que não seja a tônica —, isso cria um pouco de tensão. É ótimo. Quando você enfim chega a Dó, é tipo: ‘ah, graças a Deus ele chegou a Dó!’. Você pode criar tensão com isso. Eu não sabia que era isso que eu estava fazendo; simplesmente soava bem. E isso começou a me deixar muito mais interessado no baixo. Não era mais uma questão de ser apenas uma nota grave no fundo.”

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Fonte: rollingstone.com.br

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