Antes de começar a rodar o Brasil com a edição 2025 de sua turnê Temple of Shadows in Concert, Edu Falaschi bateu um papo com a Rolling Stone Brasil. O vocalista se mostrou empolgado com a série de shows iniciada em maio e com datas marcadas até agosto, trazendo consigo as atrações de abertura Noturnall, Auro Control e Krakkenspit.
Como em 2019, o cantor tem executado na íntegra o clássico do power metal Temple of Shadows (2004), quinto álbum de estúdio do Angra e o seu segundo junto à banda, na época completa por Rafael Bittencourt (guitarra), Kiko Loureiro (guitarra), Felipe Andreoli (baixo) e Aquiles Priester (bateria). Desta vez, porém, a celebração de 20 anos do disco o traz em mais datas ao lado de orquestra — algo que, na primeira edição da tour, só havia sido possível realizar em São Paulo.
A capital paulista, diga-se, também terá atrativos diferentes em comparação a seis anos atrás. Falaschi convidou Roy Khan, ex-vocalista do Kamelot, para um show especial onde também executa um álbum na íntegra junto de orquestra: The Black Halo (2005), comemorando seu 20º aniversário. O artista norueguês será acompanhado por músicos da banda brasileira Maestrick. No set de Edu, haverá ainda os convidados Kai Hansen (Helloween, Gamma Ray), que participou do disco original, e Adrienne Cowan, cantora do Seven Spires e colaboradora do Avantasia.
Confira abaixo as datas restantes da turnê. Ingressos estão disponíveis no site oficial do artista.
- 20/06 – Uberlândia – London
- 21/06 – Brasília – Toinha Brasil Show
- 22/06 – Goiânia – Bolshoi Pub
- 27/06 – Ribeirão Preto – Hous
- 28/06 – Bauru – Villa Rondon
- 05/07 – São Paulo – Tokio Marine Hall
- 11/07 – Porto Alegre – Teatro AMRIGS
- 12/07 – Joinville – Teatro da Liga
- 19/07 – Rio de Janeiro – Sacadura
- 20/07 – Belo Horizonte – Mister Rock
- 26/07 – Ponta Grossa – Marista
- 27/07 – Curitiba – Teatro Ópera de Arame
- 15/08 – Salvador – Teatro Diplomata
- 16/08 – Aracaju – Vibe Music Lounge
- 17/08 – Recife – Teatro Boa Vista
- 22/08 – Natal – Ribeira Music
- 23/08 – Fortaleza – Ophera Music Bar
- 24/08 – Teresina – Bueiro do Rock
- 31/08 – Santo André – Santo Rock Bar
A entrevista na íntegra está disponível no canal de YouTube da Rolling Stone Brasil. Abaixo, você assiste ao vídeo e também confere alguns destaques separados em texto.
Entrevista com Edu Falaschi
Sobre o mote da turnê
Edu Falaschi: “A ideia é celebrar não apenas o Temple of Shadows, como também a turnê original Temple of Shadows in Concert, que teve poucos shows, pois já estava naquele movimento meio de pandemia. Agora levaremos essa turnê da época do DVD, tocando Temple of Shadows com orquestra… obviamente, não poderei fazer com orquestra em todas as cidades, mas estamos fazendo em todas que pudermos. Além disso, tem os autorais, as músicas de Vera Cruz e Eldorado.”
Plano de turnê com orquestra existia desde os tempos de Angra
Edu Falaschi: “Tínhamos um projeto com o Angra na época. Não lembro exatamente por que não rolou, mas não foi para frente. A própria divulgação da Temple of Shadows in Concert pela primeira vez tinha isso. Falava brincando: ‘Lembra dos tempos de Angra, que tínhamos aquele sonho? Agora, vamos conseguir realizar com orquestra’. O DVD que gravamos em 2019 já virou clássico, tem o maestro João Carlos Martins, Guilherme Arantes, os originais do disco: Kai Hansen, Sabine Edelsbacher… foi um projeto gigantesco. Lembro que tinha 200 pessoas trabalhando naquele momento. Às vezes, paro para pensar: como consegui fazer isso? Ficou lindo.”
Turnê em formato “raiz”, rodando com bandas de abertura
Edu Falaschi: “Esse é o jeito que vi acontecer o heavy metal no mundo, no começo dos anos 1980. As bandas maiores colocavam uma para abrir, daí essa menor ficava grande, chamava outra e assim se criava um ciclo. O heavy metal cresceu muito por isso. Acho legal dar oportunidade. Na turnê anterior, revisitando o DVD Rebirth Live in São Paulo, fiz a turnê em formato clássico com as bandas, com ônibus próprio adesivado viajando o Brasil todo. […] Estar na estrada é muito importante para um artista — e não apenas nas grandes capitais, como também em cidades pequenas. […] E essas bandas também me ajudam, pois oferecem um pacote mais interessante para o fã e vende mais ingressos.”
Concurso para participações de um cantor e uma cantora em cada cidade
Edu Falaschi: “O álbum original Temple of Shadows tem convidados, então para os shows, pensei: já que tem esses momentos onde não canto sozinho, por que não ter cantores locais? Tem muitos grandes cantores e músicos no Brasil, que é uma fonte inesgotável de talentos. Desenvolvi um concurso para trazer esses convidados — um cantor e uma cantora — em cada cidade e publiquei as regras: o artista interessado precisa enviar uma gravação cantando a música, daí analisamos e escolhemos. É uma oportunidade de se estar em um show com estrutura profissional e público — que é o grande dilema de bandas novas. Não tive essa mão estendida quando comecei com o Mitrium, minha primeira banda, lá em 1991, pois era bem mais difícil conseguir um palco. Então, tento dar meu melhor para que essas pessoas tenham algo que eu não tive.”
A presença de Roy Khan no evento, com show especial cantando The Black Halo, do Kamelot, na íntegra
Edu Falaschi: “Isso é algo inédito. Roy é um dos meus grandes ídolos. Uma das vozes mais bonitas do heavy metal. Sempre fui fã dele não só no Kamelot, como também no Conception. E ele é um cara sensacional. Pude conhecê-lo quando ele esteve no meu show em São Paulo (no início de 2024) para participar. Ele ficou surpreso com o rumo que minha carreira solo tomou — o tamanho, a proporção. Viu a casa lotada e ficou impressionado. Muito dessa coragem dele falar ‘também vou fazer uma carreira solo com os clássicos da minha vida’ foi por conta desse show em São Paulo. Conversamos muito depois do show, ele me fez mil perguntas: como que eu fiz, o direcionamento que tomei pra começar essa carreira solo. Depois, ele trouxe uma ideia, conversamos por WhatsApp e ele disse que havia se inspirado e tomado coragem para fazer. Incentivei o máximo possível e ainda o convidei para fazer a estreia dessa carreira solo em um show grandioso com orquestra em São Paulo. A galera vai ouvir tanto Temple of Shadows quanto The Black Halo com orquestra. Uma noite imperdível para quem é fã desse estilo de som.”
A recepção inicialmente dividida a Temple of Shadows
Edu Falaschi: “Estávamos super confiantes, pois vimos que era um disco bom, mas quando saiu, havia algumas pessoas falando: ‘ah, mas eu achei muito progressivo, muito experimental’. Principalmente a segunda metade do tracklist, com músicas mais experimentais. Lembro de comentar com o Kiko: ‘caraca, será que a galera vai gostar, no fim das contas?’. Kiko falou: ‘só o tempo vai mostrar se esse disco é um clássico mesmo ou não’. E de fato o tempo mostrou que, sim, é um disco atemporal. Tenho ouvido muito por causa da turnê e percebo: parece que foi composto agora, entende? Se fosse uma banda de hoje, fazendo aquele disco, iria funcionar perfeitamente. Marcou não só uma, mas duas gerações. Mas, sim, de início gerou uma estranheza porque vínhamos de um álbum mais simples e direto, o Rebirth. O Angra não podia perder a essência, mas também tinha que chegar com umas coisas novas. É complexo. Kiko e Rafael foram guerreiros demais em segurar uma bomba daquela, pois só ficaram os dois da formação anterior. E chegaram com um disco como o Rebirth, com uma mega responsabilidade de ter que provar para todos — inclusive eles mesmos — que eram capazes de continuar com a mesma qualidade de antes. Ajudamos a provar isso e foi um momento importante para mim, porque contribuí chegando com a ‘Nova Era’, compus ‘Heroes of Sand’, na mesma época gravei a ‘Bleeding Heart’, que hoje virou um grande clássico a ponto de ter versões de forró e sertanejo. Contribuí não apenas cantando, como também criando junto com eles.”
A desafiadora gravação de Temple of Shadows em meio a problemas vocais
Edu Falaschi: “É um misto de orgulho, por ter feito da maneira como foi, e também de lembranças de perrengue. As músicas eram mais agudas que as do Rebirth e tinha mais drives. Os vocais daquele disco têm grave, médio e agudo; limpo e drive; muito vibrato e pouco vibrato… tem tudo. Mas consegui me sair bem e fui muito ajudado nas produções pelo Dennis Ward. Quando o disco saiu, eu já estava mais recuperado e fui para a turnê mais tranquilo. Voz é algo incerto: pode dar refluxo — que foi meu caso —, pode dar calo, pode dar problema com friagem, resfriado. O cantor pode sarar rápido, mas pode piorar a situação e demorar. Tem vários casos de cantores que tiveram inúmeros problemas. Na época que eu tive problema, Michael Kiske (Helloween) também teve, o Dennis falava: ‘seu problema é bem parecido com o do Michael’. O importante é que conseguimos fazer um produto na mesma qualidade que o Angra sempre teve. E, ironicamente, com esse disco, ganhei naquele ano o troféu da revista Burrn! como melhor vocalista do ano e também de compositor do ano pela música ‘Spread Your Fire’, que fiz e depois o Kiko me ajudou na parte instrumental. Acho que fiquei cinco anos consecutivos entre os cinco melhores cantores eleitos pela Burrn! no Japão. Isso mostra minha capacidade e resiliência de me lutar e me reinventar. Foi um período difícil, mas aprendi muito. E esse disco elevou a minha carreira — que já estava em alta com o Rebirth —, bem como colocou o próprio Angra em outro patamar.”
O próximo álbum que fechará sua trilogia solo e sua carreira discográfica
Edu Falaschi: “Acho que gravei uns 15 discos na carreira. É uma quantidade relativamente alta. Gosto de gravar álbum com calma, então, levo entre um ano e meio e dois anos. Dá um grande trabalho. Antigamente, havia suporte das gravadoras, que bancava as gravações. Depois, ia-se para a estrada para tocar as músicas, vendia os discos, o artista ganhava tanto da turnê quanto dessas vendas. Hoje, a venda de discos é simbólica, apesar de que ainda tenha público no Japão e até no Brasil. Nos meus lançamentos solo, Vera Cruz e Eldorado, em vez de só lançar o disco, criei um box com diferenciais, como um livro de histórias do Vera Cruz junto do Fábio Caldeira, cantor do Maestrick que escreveu a obra. Sei que cada vez menos há interesse na mídia física simples. Então, tudo isso demanda muito trabalho, tempo e custo. E é um tempo que você precisa ficar sem fazer shows. E, no fim, praticamente não há venda de discos. Fica financeiramente inviável. Talvez seja melhor lançar single, porque você continua a fazer shows e só para por um ou dois meses para compor, gravar e lançar. Não vou parar de produzir material novo; agora, gravação de álbum nesse nível de complexidade, acho difícil fazer de novo. Pode até acontecer de fazer algo especial, ou lançar singles e reunir tudo em um disco, mas para mim isso não tem a mesma graça de fazer um disco, algo complexo, o projeto inteiro. Adoro estar em estúdio. Além disso, na década de 1980 cresci ouvindo minhas bandas favoritas dessa forma. Só que o mundo muda. Acompanhamos sem problema. Por isso, talvez, esse final de trilogia seja o último disco no formato tradicional.”
A presença da música “Strike as One” na trilha do game Assassin’s Creed: Shadow
Edu Falaschi: “Foi uma grande surpresa. Estou ligado a esse universo de animes e mangás por conta da ‘Pegasus Fantasy’ [trilha de Os Cavaleiros do Zodíaco], então, acho que foi por isso que a Ubisoft [fabricante de Assassin’s Creed] me perguntou se eu gostaria de entrar no projeto do jogo novo. Tenho muita conexão com a cultura japonesa, não só pelos Cavaleiros do Zodíaco, mas pelo Angra, pelo qual o público japonês tem muito carinho. Então, perguntei o que eles queriam, fizemos uma reunião em São Paulo e me apresentaram o projeto: uma música que seja uma homenagem ao universo dos animes da década de 1990. Alguns exemplos foram mostrados e para mim não seria tão difícil, pois via essas séries nos anos 1980, principalmente Spectreman, Ultraseven, Ultraman. Prometi enviar uma demo em um mês. Só que aí eu saí da reunião e, já no carro, compus a música de cabeça. Sempre gravo as ideias no próprio gravador do celular. Vou fazendo a melodia com a boca. ‘Strike as One’ já veio logo de cara, então fui bolando enquanto dirigia — e eu passei um tempo na estrada, pois moro no Guarujá. Cheguei em casa super empolgado e gravei o básico. Dois dias depois, mandei a demo para eles. Os caras falaram: ‘pô, levou dois dias, como assim?’. E ficou a versão que mandei, sem mudanças. Aí fizemos a gravação com meu irmão, Tito Falaschi, com todos os instrumentos. Ele também mixou e masterizou. Tito é pau para toda obra: talentoso em um nível máximo.”
Processo de composição
Edu Falaschi: “Não paro de compor. Estou o tempo todo gravando ideias. Quando compus ‘The Ancestry’, que é super virtuosa… eu jamais conseguiria tocar aquilo, mas compus na boca e depois fui para o computador. Programei tudo. Aí, pedi para o guitarrista, Roberto Barros, fazer o arranjo e me mandar. Eu sabia o que eu queria, então cantarolei isso para o Roberto e falei: ‘aqui são arpejos de guitarra, coloca dentro do seu estilo’. Eu trouxe todas as ideias iniciais de todas as músicas da minha carreira solo. Demonstro o que quero, para onde acho que a música deve ir, e aí juntamos as peças. Fiz muito assim com o Rafa e especialmente com o Kiko. No Angra, mostrava as ideias iniciais das músicas que eram minhas e o Kiko vinha com outras ideias.”
A admiração por Guilherme Arantes, que participou do DVD Temple of Shadows in Concert e diz ter se aproximado do rock progressivo por conta dessa parceria
Edu Falaschi: “O Guilherme Arantes fez um disco sensacional [A Desordem dos Templários, 2021] depois disso. Um disco lindo demais. Tem uma música que ele fez pra mãe dele [‘Estrela Mãe’], que não dá nem pra ficar ouvindo muito, pois é muito bonita e muito triste. Guilherme é um cara diferenciado, de uma sensibilidade fora do comum. Grande compositor e cantor. Muito fora da curva no piano e nas harmonias. Quando ele aceitou meu convite para participar, foi como ganhar um presente de criança, pois ele é um dos meus ídolos máximos. Lembro de estar no palco, olhar pra ele e pensar: ‘Guilherme Arantes está aqui no meu show, como assim?’. Muito craque. E ele tem o rock progressivo nas veias desde sempre, pois ele começou no prog. Já tem isso muito natural para ele. Então, quando ele tocou ‘Late Redemption’ comigo, parecia que a música era dele.”
Entrevista completa:
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Fonte: rollingstone.com.br