Um estudo publicado no periódico Scientific Reports tem levantado questões e gerado o seguinte debate no segmento acadêmico ligado à música: a música pop ficou mais burra? É uma discussão também sentida entre os fãs como um todo, mas que tem ganhado caráter científico.
No artigo assinado por um grupo de pesquisadores — a saber: Emilia Parada‐Cabaleiro, Maximilian Mayerl, Stefan Brandl, Marcin Skowron, Markus Schedl, Elisabeth Lex e Eva Zangerle —, algumas hipóteses são sugeridas. Uma das principais é: os novos gêneros musicais têm se mostrado “menos complexos e mais homogêneos”.
O título do artigo é: “As letras das músicas se tornaram mais simples e repetitivas nas últimas cinco décadas”.
Os pesquisadores afirmam isso após terem analisado — com a ajuda de softwares específicos — as letras de 353.320 músicas e um conjunto de dados de aproximadamente 20 mil arquivos MIDI. O material compreende a produção musical feita no período entre as décadas de 1970 e 2020.
O estudo explica:
“No geral, nossas descobertas sugerem que a democratização da composição musical e a criação de ambientes altamente interconectados para o compartilhamento musical contribuíram para o surgimento de gêneros novos, menos complexos e mais homogêneos, enquanto até mesmo gêneros historicamente mais complexos, como a música clássica e o jazz, experimentaram um declínio em complexidade ao longo do tempo.”
Observações a respeito das letras também foram feitas. Os pesquisadores destacam que as mensagens se tornaram mais “raivosas” e “egocêntricas”, além de simplificadas e repetitivas, com o passar dos anos.
Tudo isso recai sobre a mudança na forma do consumo de música, hoje mais relegada ao segundo plano de outras atividades das pessoas. Dessa forma, como reconhecido por Eva Zangerle em entrevista ao The Guardian, “os primeiros 10 a 15 segundos são altamente decisivos para mantermos ou pularmos uma canção”.
O resumo do artigo científico destaca:
“Constatamos que as letras de música pop se tornaram mais simples e fáceis de compreender ao longo do tempo: não apenas a complexidade lexical das letras diminui (por exemplo, capturada pela riqueza do vocabulário ou pela legibilidade das letras), mas também observamos que a complexidade estrutural (por exemplo, a repetitividade das letras) diminuiu. Além disso, confirmamos análises anteriores que mostram que a emoção descrita pelas letras se tornou mais negativa e que as letras se tornaram mais pessoais nas últimas cinco décadas. Por fim, uma comparação entre a contagem de visualizações e a contagem de audições de letras mostra que, quando se trata do interesse dos ouvintes por letras, por exemplo, os fãs de rock apreciam principalmente letras de músicas mais antigas; os fãs de country estão mais interessados nas letras das novas músicas.”
Contraponto
Por outro lado, Ethan Hein, professor, musicólogo e PhD em educação musical pela Universidade de Nova York, escreveu um artigo de opinião no site especializado MusicRadar em que relativiza alguns dos apontamentos feitos pelo estudo publicado na Scientific Reports.
“Talvez isso seja verdade! Mas você também pode interpretar o estudo como se dissesse que, à medida que as tecnologias de manipulação e síntese de áudio se tornaram mais poderosas, músicos de todos os gêneros concentraram mais seus esforços no som e na produção, e menos em novas combinações de notas.”
Ethan questiona algum dos métodos utilizados pelos pesquisadores, como, por exemplo, levar em consideração arquivos MIDI — os quais, segundo ele, são apenas “partituras para instrumentos digitais” e não necessariamente música de verdade, pois “não codificam som, exceto da forma mais indireta e abstrata possível”.
Segundo o professor, o escopo utilizado — música consumida “predominantemente por homens entre 20 e 30 anos dos Estados Unidos, Rússia, Alemanha e Reino Unido“ — também não pode ser tomado como verdade absoluta e conclui, sobre a complexidade do tema. Ele afirma:
“Seria ótimo se pudéssemos entender a música como algo mais objetivo do que apenas vibrações. Mas a objetividade exige perguntas claras e inequívocas que possam ser respondidas com dados claros e inequívocos, e não é fácil fazer e responder esse tipo de pergunta sobre música.”
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Fonte: rollingstone.com.br