Depois da entrevista coletiva que os cardeais brasileiros concederam no Colégio Pio Brasileiro, nesta sexta-feira, eles também atenderam os jornalistas para pequenas entrevistas exclusivas, em que respondiam a poucas perguntas. Falando à Gazeta do Povo, dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, manifestou sua expectativa de que o papa Leão XIV continue o processo sinodal iniciado pelo papa Francisco, e que já teve dois grandes eventos em Roma.
O senhor participou do Sínodo da Sinodalidade, e qual é a sua expectativa em relação ao papa Leão XIV neste ponto, já que uma das últimas medidas do papa Francisco foi iniciar uma nova etapa de discussões que terminará em 2028?
Ele vai dar continuidade. O cardeal Prevost participou de todo o processo, das duas sessões em Roma, e interveio em mais de um momento. A Igreja realmente está ganhando, para usar uma expressão comum, um “homem de sinodalidade”, porque ele é um homem de escuta. A sinodalidade é muito exigente porque exige muita escuta, e só depois de escutar muito é que se sabe o caminho a ser tomado. Esse é o modo de ser do novo papa: nas conversas, ele é mais de ouvir que de falar; quando faz uma pergunta, é para tentar aprofundar e compreender melhor. Vamos viver momentos importantes de sinodalidade na Igreja.
A sinodalidade ainda é um conceito em construção; há quem pense que se trate de mudar a doutrina, há quem pense que se trata apenas de escutar um pouquinho mais as pessoas. Já temos alguma pista sobre como o novo papa entende a sinodalidade?
Em termos de definição, não; mas em termos de dinâmica, sim. E digo isso porque a Igreja na América Latina tem esse modo: nós não decretamos coisas de cima para baixo como bispos; nós ouvimos as comunidades, que nos ajudam, nas assembleias, a tomar decisões, a planejar a pastoral e a evangelização. O papa Leão XIV tem essa experiência de forma muito concreta. A sinodalidade não é uma teoria, nem é uma prática: é um modo de ser Igreja em que todos nós vamos participando. Eu estou há cinco anos em Manaus e encontrei uma igreja sinodal. É algo extraordinário: de quatro em quatro anos temos uma assembleia, mas ela é preparada com quase dois anos de antecedência, porque tentamos ouvir as quase mil comunidades que existem; elas mandam suas respostas, nós respondemos, elas se manifestam de novo, e só depois tudo é levado a uma assembleia da qual participam os representantes dos diversos setores de toda a arquidiocese. Isso é sinodalidade: ouvirmos mais, por exemplo, os conselhos pastorais, que talvez estejamos ainda ouvindo pouco.
Um tema que surgiu muito nas discussões pré-conclave foi o da unidade na Igreja. Como superar as divergências naturais que existem entre os cardeais sobre vários assuntos da vida da Igreja?
Eu prefiro sempre falar em comunhão. A palavra “unidade” dá a impressão de que temos de ser uma espécie de bloco – ainda que ela não expresse isso, é a impressão que dá. A comunhão é diferente: nós estamos em torno de Jesus, guiados pelo Espírito Santo. Somos diferentes uns dos outros como em uma família. Eu venho de uma família muito grande: nós éramos 16, completamente diferentes uns dos outros, e ali no meio estavam o pai e a mãe, lidando com as nossas diferenças entre irmãos. Diferenças que permanecem até hoje – de compreensão política, de como organizar as coisas, de como nos organizarmos como família –, mas a comunhão também permanece e todo ano nós nos reunimos. Por quê? Porque existe algo que nos atrai. Então, trata-se de mais que unidade: é uma profunda comunhão. E isso é muito bonito, é algo que o Concílio Vaticano II nos ajudou a retomar: a grandeza da comunhão.
Fonte: Revista Oeste